Tá louca, lindíssima?

Beatriz Matos
Lindíssima disse tudo
3 min readApr 28, 2018

Esses dias li em algum post, provavelmente no Instagram, que é a rede social que mais uso, sobre como as pessoas antes escreviam em diários e não queriam que eles fossem lidos e, hoje, postam nos sites de redes sociais e ficam chateados se não têm visibilidade. Paralelo a isso, já vi questões como ˜fulana posta tudo da vida dela, mas não quer que as pessoas comentem˜. Não bastasse isso, aconteceu comigo de estar olhando o perfil de uma garota constantemente no Instagram, mesmo não seguindo ela, porque o perfil era aberto. E a menina percebeu, já que nos stories aparece o nome de quem visualizou, e, para minha surpresa, me mandou uma mensagem questionando o que eu olhava no perfil dela. Tudo bem que ela estava grávida de um menino com quem eu estava ficando, e, de fato, eu não estava olhando sem querer o perfil dela, mas me admirou a postura de mandar mensagem incomodada. Primeira coisa que pensei foi: querida, seu Instagram é aberto, não quer ser vista, coloca no modo privado para você ter controle de quem está te seguindo. E mesmo assim, esse controle é totalmente ilusório, porque graças a Deus tem o print que as amigas mandam. Porém, não a respondi.

Me lembrei de um texto de Habermas sobre esfera pública e privada que li no primeiro semestre da faculdade. E o autor defendia que o espaço público era onde estavam os cidadãos livres a fim de compartilhar suas opiniões. No espaço privado, estava a vida doméstica ou familiar, onde se garantiria a sobrevivência. Apesar de inúmeras críticas às suas concepções — até o próprio Habermas, posteriormente, reconsiderou algumas ideias — me apego a essa ideia do público como um local visível e suscetível à opinião pública.

Os sites de redes sociais despertam grandes debates acerca da hipervisibilidade. Para alguns, constituem uma problemática e para outros faz parte do processo de construção identitária. Beatriz Polivanov em seu livro Dinâmicas Identitárias em Sites de Redes Sociais – Estudo com participantes de cenas de música eletrônica no Facebook constata:

“um dos principais aspectos destes novos fenômenos de exposição de si é a sua extrema ‘demanda’ pelo olhar do outro como meio de legitimação desta ‘intimidade’ que se dá a ver” (2005, p. 56); é, como argumenta Sibilia, “espetacularizar a intimidade para ser alguém” (2008, p. 241).”

Dessa forma, a visibilidade aparece como uma característica necessária. No entanto, os indivíduos nas redes sociais se tornam incoerentes em alguns momentos, como minha querida amiga, que tornou seu perfil público no Instagram e achou ruim quando eu estava vendo suas postagens. Assim, como outras pessoas que tornam públicas algumas informações e esquecem que estão sendo passíveis de julgamentos. Para os usuários, a visibilidade nesses espaços só é conveniente até certo ponto.

Assim como é apresentado por Patrick Champagne, no livro Formar a Opinião – O Novo Jogo Politico. Na política, a opinião pública foi desde a origem limitada a um grupo específico, quando oriunda de uma outra parcela, ela é considerada vulgar e irracional.

Sendo assim, “o povo “pensa bem” quando diz o que as elites políticas pretendem que ele diga e que “tem sempre razão”, exceto quando se engana; neste caso, as elites políticas devem saber “desafiar a opinião “(p. 57).

Apesar de a opinião ser algo subjetivo, e como visto no livro, no século XVIII, esta era entendida como algo provisório (entre a dúvida e a certeza). Ao logo da história, ela foi sendo aperfeiçoada para se encaixar na política e, assim foram surgindo formas específicas de organização, como é o caso da democracia representativa.

Por fim, o que eu quis dizer é que a visibilidade é inerente às redes sociais, apesar de haverem alguns mecanismos que nos dá a sensação de controle. No entanto, a opinião gerada por essa visibilidade precisa ser ajustada para agradar. Assim como na política, existe momentos que a voz de Deus é a voz do povo e situações em que o povo precisa de um representante talvez mais sábio.

--

--