Formação de Opinião, Redes sociais e “Bolhas Ideológicas”

Victor Silva
Lindíssima disse tudo
3 min readApr 30, 2018

Em um país cada vez mais dividido, mais se torna importante a discussão sobre como se constrói a opinião pública representada pelos políticos em nosso sistema democrático. A representatividade, em número de deputados no Congresso Nacional não se assemelha aos dados do povo brasileiro: 60% da nossa população é de negros e pardos e apenas 3% do congresso, as mulheres representam 51% do povo e 9% no congresso, e a diferença se apresenta maior para os congressistas em 30% — 1% entre os ruralistas e 50% — 3% entre os empresários. Em um mundo com o fluxo de informação cada vez maior, até que ponto essa “Opinião Pública” representa a visão política das pessoas e não favorece a transformação da política em espetáculo?

Mas quem seriam os principais formadores de opinião no Brasil? Como as novas mídias mudaram a forma de produção de informação e construção de autoridade? Entre Família, Universidade, Facebook, Instagram, Netflix, Globo, Wikipedia, Google, quem constrói nossa opinião?

Redes sociais

Um estudo da Markest indica que os internautas dedicam, em média, 91 minutos do seu tempo em redes sociais e que aumentam o uso a cada ano. Por isso, é importante considerar as plataformas como formador diário de opinião, em tempos que a política se tornou assunto nos feeds.

Empresas como Facebook e Instagram estimulam o interesse dos usuários nas redes através de um algoritmo que exibe conteúdos semelhantes ao que eles interagem. Ou seja, quanto mais você curte um candidato, mais você receberá opiniões semelhantes a essa e criará uma “bolha ideológica”. Mas afinal, será que é mais importante ler mais do que já concordamos ou entrar em contato com opiniões diversas na construção de uma visão política e na escolha de um candidato?

Mecanismos de Pesquisa

O Google utiliza algoritmos para tornar sua pesquisa mais relevante. Você já parou pra pensar quantas perguntas no seu dia é o Google que responde? Pra mim, diria que várias. A plataforma é uma ferramenta de auxílio para meus estudos na faculdade, para tirar alguma dúvida aleatória, para me deslocar de um ponto a outro ou até pra me indicar um programa de lazer.

O processo de curadoria das “autoridades digitais” também passa pelas mãos do nosso querido Google e grande parte das procuras por candidatos em épocas de eleições devem passar pelo site. Cada vez mais, estamos cercados de informações semelhantes a nossas visões.

Televisão e Jornal

As mídias de massa tem sofrido queda na sua visibilidade com o boom das mídias digitais, porém seu papel na formação de opinião ainda é extremamente forte, afinal, podemos considerar que existe pelo menos uma televisão em cada residência. Jornalismo imparcial já é um pouco utópico por definição, mas no Brasil o buraco é mais embaixo.

Principalmente em Jornais (televisivos, impressos ou virtuais), onde o assunto política é mais abordado, há uma constante criação de autoridade e emissão de opiniões consideradas de interesse da população. Diferente das redes sociais, as mídias de massa buscam criar uma bolha ideológica macro, abordando questões muitas vezes complexas com o rótulo de “fatos”.

Mais importante do que ter pessoas que concordam conosco à nossa volta, precisamos estar sempre abertos para informações diversas e ser capazes de desconstruir pensamentos e visões com olhar científico. Por muitas vezes na escola aprendemos a ter uma visão sistemática e linear, demonstrando verdades que só foram descobertas através do pensamento não-linear de alguém.

Na política, precisamos do mesmo: menos espetáculo e mais debate, menos binarismo e mais empatia, menos respostas e mais perguntas.

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