Operação militar na Vila Kennedy 23/02/2018 Foto: Ian Cheibub

Intervenção federal no Rio de Janeiro e suas respostas sociais até o momento.

Devemos aceitar como uma medida eficaz de segurança pública ou jogada política de uma estrutura governamental ilegítima?

3 min readJun 4, 2018

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Logo após a semana do carnaval, no dia em 20 de fevereiro deste ano, tivemos uma surpresa do Senado, que aprovou Decreto, em “ regime de urgência”, de intervenção federal na segurança do estado do Rio de Janeiro até o final do ano, 31 de dezembro de 2018. Resta saber quais serão as consequências desta medida para a população periférica.

Já chegamos ao final do primeiro semestre, quatro meses após a implementação do decreto assinado pelo presidente [Fora] Temer, e já foram noticiadas e invisibilizadas incontáveis mortes de moradores das diferentes localidades ocupadas pelo exército, sem falar dos constantes tiroteios nestas mesmas localidades. Um completo genocídio da população negra e pobre que vive em meio a este cenário de guerra e não tem outra alternativa como forma de moradia, em um sistema que trata moradia como privilégio.

Diante deste cenário que parece não ter fim, vemos vítimas e mais vítimas de um genocídio declarado atingindo principalmente o povo preto e pobre, os mais atingidos pela violência em nome da segurança e também os mais marginalidades perante às autoridades governamentais. São inúmeros os casos de jovens mortos por policiais ou em confrontos que não são noticiados na mídia tradicional, deixando a população cada vez mais assustada com tanta truculência. Diante do aparato repressor massificado de um Estado assassino, é necessário lembrar das pessoas inocentes que morrem diariamente e também daquelas que precisam viver em meio ao fogo cruzado da violência nas comunidades pobres colocando sua vida em risco. Os exemplos são diversos, todos os dias os noticiários da TV golpista se beneficiam espetacularizando o banho de sangue destinado a esta classe destituída de qualquer valor, os pobres.

Não são casos isolados os que estão acontecendo nas favelas e comunidades pobres do Rio de Janeiro, onde um dia de confronto termina com saldo de 7 ou mais pessoas hospitalizadas, quando não mortas por esta guerra. Moradores relatam que o clima de violência piora quando a Polícia Militar faz operação na comunidade onde um policial foi morto, a tentativa de encontrar os responsáveis pelo crime aumenta o confronto com trocas de tiros entre policiais e bandidos. Trecho da entrevista com um morador no jornal Destak confirma a barbárie diária — “João acredita que esse tipo de ação da PM aumenta o número de tiroteios no local, impede que moradores da região possam se deslocar e traz riscos a quem vive na comunidade.

‘A entrada da polícia recorrentemente acontece em horários que coincidem com a saída ou entrada de crianças nas escolas. E, sem preparo, os policiais atiram a esmo para onde quiserem sem sequer terem um pouco de cuidado com as pessoas, especialmente quando entram na favela com o ‘caveirão’. Há uma relação de dominação que os policiais, a meu ver, tem com a gente que vive aqui dentro, a ponto de nossas vidas poderem ser tiradas se for da vontade deles. É só dar como auto de resistência [homicídio decorrente de oposição à intervenção policial] e pronto’, finaliza.”

Estarrecedor para toda a população o caso da vereadora Marielle Franco, na qual denunciou em sua conta do Twitter a chacina de três jovens e os abusos policiais que estavam ocorrendo na favela do Acari, localizada na Zona Norte do Rio. Logo em seguida, foi assassinada brutalmente quando saía de um evento protagonizado por mulheres negras na Lapa, região central do Rio. Importante ressaltar que a vereadora também havia sido indicada para integrar a comissão de investigação à intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro.

Meses após a implantação de um decreto que só formalizou e brutalizou mais ainda o que o Estado democrático faz todos os dias contra a população pobre: persegue, tortura e mata; não tivemos um resultado eficiente de segurança pública para comemorar. Pelo contrário, a população está cada vez mais amedrontada com toda a situação de caos instaurada, desestimulada de lutar contra uma instituição que se vale do poder bélico e do massacre de um povo para manter seus privilégios de dominação. Que o exército, armas poderosíssimas importadas, carros fortes blindados nas ruas, tanques de guerra não sejam a solução para um problema social todos os cientistas sociais e historiadores já sabem, nos alertaram diversas vezes no que isso iria dar.

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aspirante a ciborgue sobrenatural, nadando no oceano das incertezas absolutas das fadas helenísticas transcendentais