Jornalismo e democracia: por que ler o manual de comunicação LGBTI +?

Stéphanie Marchuk
Lindíssima disse tudo
4 min readJul 1, 2018
Capa do Manual de Comunicação LGBTI +

O estudo sobre jornalismo e democracia esteve presente em todo o meu primeiro semestre de 2018 em conjunto com o pensamento sobre formação de opinião e manutenção de um sistema democrático, principalmente durante a vigência de um governo golpista. Tais reflexões fizeram com que eu escolhesse o Manual de Comunicação LGBTI +, lançado essa semana no Rio de Janeiro, devido a semana do orgulho LGBTI+, como tema do último texto do semestre.

Realizado pela Aliança Nacional LGBTI e pela GayLatino, o manual tem o objetivo de contribuir para a democracia, colaborando para uma comunicação inclusiva, reduzindo a propagação de preconceitos, mesmo que, muitas vezes, velado. Em resumo, ajuda o jornalista, estudante e outros profissionais a não cometer erros com a comunidade LGBTI +.

O manual traz a diferenciação entre “sexualidade” e “gênero”, explica os tipos de orientações sexuais existentes, desmistifica o conceito falacioso de “ideologia de gênero” e cita o conceito de misoginia, muitas vezes praticada por membros da própria comunidade LGBTI+ e pela grande mídia, responsável pela invisibilidade das mulheres pertencentes a comunidade. Além disso, também fornece fontes úteis de pesquisa de temática LGTBI+, afirma a importância do cuidado com o nome social e traz sugestões de pautas, com informações que precisam urgentemente ser noticiadas.

Particularmente, apesar de estar em uma faculdade federal, lugar, em teoria, aberto a todos os tipos de debates, escutar termos pejorativos em relação a orientação sexual não é algo incomum. Por exemplo, já ouvi várias vezes o termo “homossexualismo” (o sufixo -ismo denota uma patologia) em sala de aula e, em alguns casos, a pessoa quando questionada, justificava dizendo que encontrou a expressão na internet. O fato é que por esse e por outros inúmeros motivos, o manual se mostra fundamental, para o asseguramento dos direitos da comunidade LGBTI +.

Esses são alguns exemplos do porque do manual ser tão necessário:

O termo correto é parada LGBTI + e deve ser usado em todas as falas, principalmente no título de matérias.

Homofobia é o termo usado em relação a discriminação contra gays. O termo correto, neste caso, seria Lesbofobia, que é a discriminação contra mulheres lésbicas.

Usar a expressão “casamento gay” para se referir a todos os tipos de união de homoafetiva invisibiliza todos os outros pertencentes a comunidade.

A palavra “gay” deve ser usada apenas para se referir a homens homossexuais. Utilizar esse termo para se referir a mulheres é uma das formas de invisibilizar lésbicas, bissexuais e outras orientações.

O fato é que erros como os apresentados aqui, contribuem para a manutenção de um sistema anti-democrático, que incentiva discursos de ódio. E o jornalismo tem papel chave para a mudança deste quadro.

“O compromisso político jornalístico, aqui, diz respeito ao papel que o jornalismo deseja desempenhar na sociedade, seja como um serviço prestado em prol da manutenção da democracia, seja como fiscal dos poderes políticos, desempenhando o papel de cão de guarda” .(AZEVEDO, 2010)

Em vista disso, é indispensável que se tome ciência da importância de se usar os termos corretos na comunicação, pois é ela que forma a opinião e que faz com que indivíduos se sintam capazes de qualificar o “Outro”, mesmo sem ter esse direito. Falhas na comunicação podem ser uma das responsáveis por crimes de ódio e discriminações que vemos constantemente. Infelizmente, vivemos em uma sociedade que precisa de instruções para respeitar o próximo e tentar manter um regime democrático.

Leia o manual e evite esse tipo de coisa:

O manual está disponível online e é gratuito.

http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2018/05/manual-comunicacao-LGBTI.pdf

--

--