Pensem muito antes de colocarem seus filhos na UFF

Giulia F
Lindíssima disse tudo
3 min readApr 30, 2018

Algum tempo atrás, em um curso de comunicação da Universidade Federal Fluminense, um calouro que dizia querer acabar com a raça dos comunistas em sua rede social alegou sofrer opressão ao ser abordado por seu veterano e avisado para se comportar entre a maioria de esquerda de seu curso.

E o que isso tem a ver com a confusão causada por Sara Winter na UFF? Nada. Bem, quase nada. Assim como o calouro, Sara é uma voz da extrema direita que defende o discurso de ódio. Diferente dele, Sara é uma figura pública que esteve envolvida com movimentos neonazistas. Ao acompanhar os desdobramentos do caso, a reação de Sara me fez lembrar do calouro que eu já tinha esquecido há muito tempo. Diante de conflitos políticos diferentes, ambos tiveram uma atitude bastante similar: culpar a esquerda estudantil por ataques a uma suposta liberdade de expressão e insinuar que a UFF é uma universidade que não merece receber dinheiro público. Ou existir.

Desde o início do ano letivo, a ex integrante do Femen Brazil vem participando de uma série de eventos na UFF, entre palestras e entrevistas, a convite de grupos cristãos conservadores e de um professor do Instituto de História com intenções bastante questionáveis. De novo: Sara Winter, notável simpatizante de regimes fascistas, ex integrante de um grupo de liderança masculina que selecionava candidatas pela beleza, defensora de métodos para salvar a mulher dos males feministas, foi chamada para dar palestras em uma universidade federal.

Na última sexta-feira, quem estava no Bloco O do Gragoatá testemunhou Sara chegando na UFF com seguranças que portavam spray de pimentas, socos ingleses e cassetetes, armas que foram usadas para intimidar alunos que protestavam contra um evento que promovia ideias contrárias a liberdade feminina mascarado de estudo cristão.

Ontem pude assistir ao vídeo onde ela alega estar trancada dentro de um prédio da universidade (com as portas abertas), sendo agredida por manifestantes (desarmados) que quebravam os vidros do prédio (já quebrados). Esses esquerdistas baderneiros, segundo Sara, é o que torna impossível a presença de gente de bem nas universidades federais brasileiras.

Sara é a performer da extrema esquerda e do fundamentalismo religioso: feminista sem nunca ter sido, resgatada de anos sem Gillette e abortos semanais para uma vida de glória formando sua própria família tradicional brasileira. Sara e seus colegas se escondem na sombra da liberdade de expressão destilando veneno fascista disfarçado de padrões étnico-morais de uma suposta opinião pública, formada apenas por opiniões de seus seguidores. Sem respeitar o discurso de ninguém além do próprio, a liberdade de expressão tão aclamada por extremistas se transforma em liberdade para ofender minorias.

Para seu público atual, Sarah nunca precisou se retratar sobre seu passado neonazista. Visitando sua página, me deparei com a propagação do ódio. O ódio à democracia, ódio à minorias participando da vida política brasileira, ódio ao ensino superior público, ódio a qualquer coisa que não representa os interesses individualistas de um coletivo que se forma e se reconhece em seu próprio ódio.

Como aluna da UFF, me entristece ver a saúde mental e física de alunos, professores e funcionários ser comprometida como foi na última sexta-feira. É dever da universidade garantir um ambiente seguro para minorias, onde pessoas não sofram ataques por causa de atividades que operam contra os direitos humanos.

Discursos opositores se fazem presentes em diversos ambientes da UFF, como deve ser. Já os discursos fascistas não são divergências democráticas e não são apenas discursos diferentes do seu, são agressões a cada um de nós. A presença de ideias fascistas dentro da universidade é absolutamente inaceitável e deve ser combatida até o fim.

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