Racismo nas universidades. Até quando?
Não é de hoje que situações racistas são vistas regularmente nas faculdades e na maioria das vezes o autor não recebe nenhuma punição. Até que ponto as coisas irão precisar chegar para que alguma autoridade interfira a nosso favor?
Bem, nós negros infelizmente já estamos acostumados a sofrer racismo de diversas maneiras. Se eu começasse a contar sobre todas as vezes que fui vítima desse tipo de preconceito, não sairíamos daqui tão cedo. Sofremos ao entrar em uma loja para comprar qualquer tipo de coisa, somos seguidos por seguranças em supermercados, já vi até gente escondendo as jóias quando passei pela catraca do ônibus, mas desde mais novo sempre tive a doce ilusão de que na faculdade seria diferente e que eu não iria precisar me preocupar com isso. Realmente, doce ilusão.
O caso citado acima ocorreu na Universidade Mackenzie no dia 17 de Agosto de 2017, em São Paulo. Um jovem negro, aluno da mesma, levou seu irmão para conhecer o campus tendo em vista que ele tinha o desejo de estudar lá no futuro. Porém, os dois foram perseguidos pelo campus durante a visita. O aluno relatou que um número totalmente desnecessário de seguranças os acompanhava em todos os cantos do campus, fazendo questão de serem vistos pelos dois.
A Universidade alegou que esse foi o procedimento feito com qualquer pessoa de fora que entre nas dependências da faculdade. Particularmente, não acredito na versão da Mackenzie e como disse no início do texto, o resultado foi parecido com todos os outros casos similares. Os culpados não foram punidos de forma alguma, se quer com medidas administrativas.
Neste outo caso, denunciado por estudantes em São Paulo e exposto para todo o Brasil no Fantástico, alunos relatam ofensas e xingamentos vindos de outros alunos da mesma universidade. Em uma das situações o estudante João relata ter sido fotografado sem o seu consentimento, e que a foto foi propagada em redes sociais com o termo “escravo”, ente outras ofensas. O culpado foi punido com 90 dias de suspensão mas conseguiu voltar às suas atividades normalmente após apresentar uma liminar que anulava a punição. Mais uma vez, os culpados não foram devidamente punidos.
Em um outro caso citado na mesma reportagem, uma aluna da Casper Líbero denunciou o ato vindo de uma professora do curso de Publicidade e Propaganda. A mesma disse que sempre teve vontade de tocar no cabelo de um negro, e pasmem-se, ela tocou. A aluna relatou que se sentiu um objeto de uma das pesquisas da professora. As vezes as pessoas pensam que racismo está apenas no ato de agredir verbal ou fisicamente algum negro, ou proibi-lo de entrar em algum lugar, mas a realidade é que ele começa nesses pequenos detalhes e comentários totalmente desnecessários.
Optei por deixar o caso acima por último, visto que foi o mais recente entre os citados e ainda está em andamento. No último fim de semana ocorreram os Jogos Jurídicos em Petrópolis, onde foram registrados ao menos 3 casos explícitos de racismo. Na foto, a casca de banana que foi jogada por uma aluna da PUC em um aluno negro da Universidade Católica de Petrópolis. Os alunos relataram à organização o ocorrido, a mesma decidiu punir a Atlética da PUC com uma multa de R$500,00 e a proibição de torcida na final do futsal feminino. Alunos da UERJ acharam pouco e tentaram ao menos protestar no intervalo dos jogos, mas foram barrados pela organização.
A partir disso os mesmos passaram a gritar em uníssono “racistas, racistas!”, em resposta os alunos da PUC começaram a imitar macacos, batendo no peito e emitindo um som similar ao feito pelo animal. As atletas que estavam em quadra durante o ato, relataram que ficaram em prantos diante de tamanha atrocidade. Uma aluna da PUC ainda disse para uma das atletas “Você acha que com esse rostinho vai acontecer alguma coisa comigo?!”, e realmente sabemos que dificilmente a citada irá receber alguma punição no nível que deveria.
A PUC relatou que já formou uma comissão para apurar o caso e uma resposta será dada em 15 dias. Já a Liga Jurídica Estadual (Organizadora do Evento) retirou o título de Campeão da Universidade este ano, e a proibiu de participar da próxima edição.
Agora vale pensar, se esse tipo de situação ocorreu em jogos onde só haviam estudantes de Direito, ou seja, futuros Desembargadores, Juízes, Advogados e até mesmo Delegados, o que podemos esperar do futuro do nosso país? Será que nossos filhos negros irão passar por situações piores, onde a vida deles pode ser posta em risco? Do jeito que as coisas andam, se nenhuma medida drástica for tomada para parar essa onda de discriminação racial que tem crescido cada vez mais, acredito que a resposta para essa pergunta seja sim.