Repensando (com carinho) as caixas de comentário

Caio Macedo
Lindíssima disse tudo
3 min readJul 3, 2018

Vista com muito ranço (não vejo outra palavra mais adequada) por grande parte da internet, principalmente no Brasil, as caixinhas de comentário — aquele fiel espaço para o leitor expor suas ideias em notícias e publicações de sites — existem desde que a internet é a internet (ou desde que surgiu a Web 2.0, caso você queira ser mais xiita na posição temporal do feito), sempre esteve lá e muitos não davam muita moral. Até que…

Vamos voltar um pouco, alguns (muitos) anos onde a internet era mato a carpir: mais precisamente 2006. Com o uso do Arquivo da Internet, fui em busca do surgimento das caixas de comentário do G1, site hoje que é o 5º mais visitado do Brasil e o 1º se considerar apenas sites de notícia.

Você quer site moderno, @? (G1 em 2006)

Mais precisamente a opção para comentar as notícias surgiu no G1 em 2010. Não fui exatamente na primeira notícia com esta opção mas segui por uma análise horizontal, vendo o uso da ferramenta nas notícias ao longo dos anos. Pouco utilizada, o “poder” de comentar as coisas, ficou mais perceptível pelos usuários a partir de 2012, onde ela passou a integrar o corpo de página das notícias e, assim, vimos o crescimento exponencial que a acompanha até hoje.

E, bem, aonde quero chegar? No momento que ela se tornou o ponto principal dos debates no ambiente virtual. Pensando por alto, esse efeito talvez tenha surgido como uma migração das redes sociais (onde você comenta as publicações e fotos dos seus amigos e acaba por expressar sua opinião neste micro-ambiente) para as páginas das notícias. As pessoas passaram a adotar a caixa de comentários como seus micro-ambientes de debate, seja lá em qual site for.

Afinal, com a ausência de espaços reais de debate e troca de ideias que vai em um rumo completamente oposto ao desejo, cada vez maior, das pessoas em se expressar, em se fazerem ouvidas, estas tendem a procurar seus (micro-)espaços de conversa e explanação de ideias. É um efeito causa-consequência interessante e até bonito, de certa forma.

É possível ver que, em alguns casos, as pessoas passam a se informar mais sobre algo (ou sobre tudo). Já que ela provavelmente precisará ter argumentos contundentes e embasados para “vencer” um debate de caixa de comentários. Ou, pela lei do menor esforço, viram e aprendem (e formam sua opinião) com os que as pessoas argumentam por lá.

E aqui temos a menina Democracia totalmente plena.

Não se assuste, car@ leitor@, e diga que isso ajudou a semear chorume e mensagens ofensivas e só. Afinal, o pleno exercício da democracia está no debate de ideias contrastantes. Tudo bem que, em alguns sites, a opinião majoritária penda para um lado ou para outro, isso acontece. Mas existem mais de um bilhão de sites na internet. Com certeza, nele você irá encontrar espaços de debates saudáveis e troca de ideias interessantes.

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