Eu Pixo Você Pinta, Vamos Ver Quem Tem Mais Tinta

Os protestos no muro são, muitas vezes, onde indivíduos privados ganham voz pública.

Isadora Freixo
Lindíssima disse tudo
3 min readMay 3, 2018

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Assim que assumiu como prefeito de São Paulo, João Dória adotou como uma de suas primeiras medidas o início da Guerra contra os Pixos e Grafites, onde mandou que se pintasse de cinza as famosas artes de rua da cidade. A decisão agradou uma parte da população de São Paulo mas também fez com que os artistas se mobilizassem e começassem a pintar por cima das artes apagadas pelo prefeito, muitas vezes, com indiretas para o mesmo.

Pixação nas ruas de São Paulo contra a marginalização dos Pixos

A pixação vem majoritariamente da população periférica, é uma forma de expressão artística que possibilita que pessoas invisibilizadas tenham voz, democratizando a arte. Os muros da cidade cinza, muitas vezes hostil a boa parte dos moradores excluídos dos benefícios da cidadania, acabam se transformando em grandes telas ao ar livre, nas quais a população da periferia consegue se fazer escutada, vista, saindo da invisibilidade incômoda. Os protestos no muro são, muitas vezes, onde indivíduos privados ganham voz pública. O que se encaixa no que Eugênio Bucci entende como esfera pública.

Apropriação das ruas como espaço público e pertencente do cidadão

A cidade é para poucos, principalmente as metrópoles. É pensada pra ser assim, exclusividade das elites, da especulação imobiliária, dos que podem pagar por ela. Quando a periferia ocupa esse espaço ela se força a ser escutada e não mais ignorada. É um espaço onde denunciam as opressões que sofrem ou relatam sua realidade. Daí, o caráter de enfrentamento, resistência, apropriação, ocupação dos espaços públicos que a pixação e o grafite representam.

Manifestação por aquilo que realmente importa

“A esfera pública se distingue como uma estrutura comunicacional que está relacionada a um terceiro aspecto da ação comunicativa: não se refere nem às funções nem ao conteúdo da comunicação de todo dia, mas ao espaço social gerado pela comunicação.” (HABERMAS, 1996 apud BUCCI, 2008, pág 11)

A Esfera Pública também pode ser interpretada como um espaço de sociabilidade. Quando o indivíduo da periferia pixa os muros ele vai além da linguagem, da mensagem passada, é uma busca por integração nos espaços que o exclui e hostiliza. A pixação e o grafite são canais que permitem a integração de setores sociais muito diferentes. É uma forma de unir as pontas de uma sociedade partida. Quando a elite passear nos seus carros vai enxergar a voz dos que não são vistos, vai ser afetada e atingida por uma realidade que não é a dela.

Pixação mostrando a realidade do Pixador

Apagar arte é apagar cultura, apagar cultura é desrespeitar o povo. A elite que comemora o ataque contra uma expressão popular que dá voz a tanta gente também é a elite que incentiva a desigualdade e a marginalização da população.

A arte do pixo é capaz de incomodar, fazer pensar, transgredir, criar espaços de sociabilidade, visto que traz pro cotidiano de classes privilegiadas um pedaço da realidade e da linguagem de uma determinada categoria social sobrecarregado com o peso da exclusão histórica e do silenciamento.

A pixação é uma forma de luta e resistência, um meio de denúncia para os que não tem privilégio na sociedade desigual.

Pra elite e seus preconceitos

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