As tendências mais preocupantes na tradução e como as contrariar

A evolução tecnológica traz enormes benefícios sobejamente conhecidos, mas também coloca desafios para o sector da tradução. Cientes da tarefa difícil que enfrentamos, a Lingfy.com dá a sua contribuição para o debate e propõe alternativas.

Bruno Portela
Lingfy-pt
6 min readOct 18, 2017

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O nosso planeta é habitado por mais de sete mil milhões de pessoas em quase 200 países que falam perto de 7000 línguas e a evolução tecnológica aproximou as pessoas através de novas formas de comunicação, mas também tornou as interações humanas mais complexas.

Nunca antes na nossa história houve tanta produção e divulgação de conteúdos e comunicações entre pessoas nos vários pontos do globo, tantas transações comerciais e governamentais, o que levou a um grande aumento da procura dos serviços de tradução. Esta crescente procura vai fazer disparar as receitas do mercado de serviços de tradução subcontratados para os 43 mil milhões de dólares em 2017, o que representa um aumento de 22% em relação à dimensão do sector em 2012, quando estava avaliado em 33,5 mil milhões de dólares segundo a organização de pesquisa de mercado Common Sense Advisory.

O mercado da tradução foi dos poucos sectores de actividade que não só resistiu à crise internacional em 2008, como ainda cresceu em tempos de retração económica, sendo hoje em dia o quarto mercado com crescimento mais acelerado nos Estados Unidos, de acordo com estudos do Centre for Next Generation Localisation agora conhecido como ADAPT Research Centre.

Mas se o cenário parece altamente favorável para os agentes envolvidos nesta actividade, a realidade não é tão cor-de-rosa e demonstra um cenário bem mais negativo que afecta não só os profissionais, mas também grande parte dos clientes que recorrem aos serviços de tradução. Deste modo, identificámos quatros tendências preocupantes no sector da tradução e revelamos as formas como a Lingfy as pretende contrariar.

1) Concorrência crescente entre tradutores com qualificações e experiências distintas

Imagine que quer construir uma casa e que tem de procurar um arquiteto para elaborar o projecto. Um dos factores que terá em conta na selecção deste profissional, será com certeza a experiência e a qualidade dos projectos anteriores que estão expostos no seu portfólio. Ora, o mesmo acontece na tradução. Certamente não irá querer que a tão almejada patente da sua empresa seja traduzida por um recém-licenciado com conhecimentos básicos da sua área de especialização.

Os conhecimentos aprofundados dos tradutores mais experientes, adquiridos ao longo de vários anos de trabalho devem ser valorizados e reconhecidos. Desta forma, não faz sentido estes profissionais terem a mesma remuneração e competirem por trabalhos com jovens que acabaram de sair da faculdade. Com isto não queremos defender que não deva haver espaço para os profissionais recém-formados, poderem crescer profissionalmente e ganhar experiência, mas tal como é óbvio deve ser feito gradualmente.

O sistema de leilões presentes em muitas empresas online de tradução trazem como consequência óbvia a diminuição dos honorários dos tradutores, mas a médio e longo prazo têm consequências graves como a desmotivação e a falta de empenho, que se vão manifestar na qualidade do trabalho final a que o cliente tem acesso.

A plataforma online Lingfy.com conta com os serviços de profissionais com a experiência requerida para os vários níveis de especialização que oferece e por uma questão de rapidez, encaminha a encomenda de serviço ao primeiro tradutor disponível que cumpra os critérios exigidos pelos nossos clientes. No final do trabalho, o cliente pode classificar o desempenho dos tradutores, algo que nos ajuda a manter elevados padrões de qualidade e a contratar apenas os profissionais mais empenhados e motivados.

2) Desregulamentação

Este problema é uma consequência directa do ponto anterior, que levanta a questão da habilitação profissional para desempenhar esta actividade. Se um engenheiro, um advogado ou um jornalista precisa de licença para exercer a sua profissão, porque não um tradutor?

Nós acreditamos que por si só, um diploma não é sinónimo de capacidade e qualidade de trabalho, até porque há muitos tradutores experientes sem cursos de nível superior. No entanto, a aposta na formação e especialização é claramente benéfica para os profissionais desta área, que lutam por exigir a regulamentação da sua actividade. A regulamentação é uma palavra que assusta muita gente, mas isso só faz sentido quando só olhamos para as conotações negativas da mesa: mais burocracia, mais dificuldade em aceder aos serviços, custos mais elevados, etc. Estes argumentos podem não ser necessariamente verdadeiros, mas, o que mais interessa é focarmo-nos nas vantagens da regulamentação: os clientes passam a ter garantias que recebem um trabalho de qualidade o que afasta grande parte das preocupações, abrem-se novas oportunidades de interacção e cooperação entre os profissionais reconhecidos que leva a melhorar a forma como prestam os seus serviços e até pode ser mais facilmente implementada uma aplicação e monitorização de um código de conduta e ética.

Queremos fazer parte do movimento associativo que exige o reconhecimento desta actividade e que estabelece padrões de qualidade para assegurar aos clientes trabalhos feitos por profissionais capacitados.

3) A tradução automática não substitui um tradutor profissional

O grande investimento em novas tecnologias que permitem acelerar de uma forma avassaladora a velocidade de tradução, tem ajudado muitas empresas a processar rapidamente grandes volumes de conteúdos. Para as grandes companhias, tal só podem ser boas notícias quando têm muitos textos como comunicações internas para traduzir ou quando pretendemos apenas ter uma ideia do significado de algumas palavras ou frases curtas escritas num idioma estrangeiro.

Assim, é sabido que a tradução automática não é adequada para palavras ou frases que têm vários significados e para quando o contexto é essencial para se perceber o objetivo do texto de origem. Para além disso, são ignorados outros factores importantes da linguagem humana como o tom, as expressões idiomáicas e outras nuances linguísticas. Por outro lado, muitas das empresas de tradução apostam na tradução automática porque vêem uma oportunidade de traduzir textos e aumentar as suas margens de lucro, exigindo aos tradutores que façam o trabalho de edição de conteúdos traduzidos por computador.

Acreditamos que a tecnologia tem muito para dar à tradução, mas esta deve estar ao serviço dos profissionais e ajudar o seu desempenho. Um tradutor é acima de tudo um ser humano, com falhas, imperfeições, mas também sentimentos e emoções que lhe permite criar empatia com a mensagem que é veiculada. Um computador nunca irá possuir a capacidade de estabelecer um elo cultural e emocional com o seu público alvo e jamais, terá a capacidade de improviso de uma pessoa.
Para nós, a tecnologia está ao serviço dos tradutores e clientes, para tornar o processo de tradução mais eficaz e rápido, mas não para massificar a tradução ao ponto desta perder a sua identidade, a sua alma.

4) A desvalorização do papel do tradutor

Ainda é muito frequente as pessoas desvalorizarem a tradução, por a considerarem apenas como uma transcrição para outra língua do conteúdo original, ignorando os conhecimentos, a experiência e a criatividade de quem adapta um texto a uma nova cultura e realidade. A tradução enquanto escrita é uma arte e deve ser reconhecida como tal.

Nós estamos ativamente envolvidos na forma como os tradutores podem colectivamente valorizar o seu trabalho, fomentar a criatividade e alertar os consumidores dos serviços de tradução, que os textos transmitem a nossa imagem e quando são mal escritos revelam o nosso desleixo e desatenção. Mas se escrevemos mensagens com significado e de uma forma apelativa, estas podem tornar-se inspiradoras porque nos fazem reflectir e poderosas porque podem mudar o mundo.

A paixão move-nos

Identificámos quatro factores que levam à desvalorização da profissão, à diminuição da remuneração dos profissionais, à precariedade, mas mais importante, à desmotivação, à indiferença e ao desencanto com uma actividade que deveria ser um passo importante na realização profissional e pessoal.

Não conheço nenhum tradutor que tenha escolhido esta profissão para ganhar muito dinheiro ou tornar-se famoso, mas quase todos eles partilham de uma enorme paixão pela linguística, pela literatura, pelas culturas estrangeiras e pelas artes. É este o género de tradutores que vai ficar encarregue do seu trabalho quando fizer uma encomenda na Lingfy e esta é uma das nossas fortes convicções que nos fazem acreditar que temos um tipo de serviço diferente para oferecer.

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Bruno Portela
Lingfy-pt

Founder at @lingfycom. Translation afficionado, avid reader about entrepreneurship and personal development. Training for a marathon. https://lingfy.com/