Os três Fs do jornalismo digital

Imagem retirada da apresentação da pesquisa Empreendimentos Digitais do Jornalismo Brasileiro.

A imagem mostra a resposta de um empreendedor quando questionado sobre como enxerga seu empreendimento jornalístico daqui a 5 anos. E quem não quer ver seu negócio firme, forte e feliz?

Uma das questões com as quais me deparo frequentemente, em diferentes disciplinas, é sobre a quantas anda o modelo de negócio do jornalismo digital. Dando uma passada por aqui hoje me deparei com um texto do Sérgio Lüdtke que apresenta os primeiros resultados da pesquisa Empreendimentos digitais do Jornalismo Brasileiro.

Entre 200 iniciativas de jornalismo digital no Brasil, 64 foram consideradas para o resultado final da pesquisa. Vou comentar aqui alguns resultados que me chamaram mais a atenção:

  • Longevidade e maturidade

48% das iniciativas observadas possuem dois anos, 34% entre 3 e 5 anos e apenas 18% mais de 5 anos. (Aqui fiz uma correção depois desse texto do Sérgio Lüdtke). Ele mostra o lado positivo desses números, do qual eu não discordo, mas aqui preferi pensar sobre o fim das que não vingam.

Fiquei pensando qual o destino dessas iniciativas depois desse período: um simples e doloroso fim ou a transformação em outro tipo de negócio? As transformações do meio digital, diante de usos e apropriações, são tão frequentes que não é incomum a mudança de um negócio para outro em função da demanda dos usuários. Pensar essa dinamicidade no jornalismo é interessante para pensar e identificar sobre o que NÃO vem dando certo por aí.

O interessante desse texto são os indicadores para se medir a maturidade de um negócio digital. Através deles fica cada vez mais explícita a necessidade de se olhar para o consumidor do conteúdo -coisa que bem se sabe que muitos veículos que estão por aí se debatendo para encontrar uma forma de lucrar com o jornalismo ainda não entenderam.

Filiação a portais

Apenas 9% são filiadas a portais. A única coisa que consegui pensar primeiro sobre isso foi: ainda bem. Sempre que leio a palavra portal me lembro desse manifesto do André Lemos. O modelo de portal já nasce problemático, e se hoje essas iniciativas fogem desse modelo ou não precisam dele para ganhar vida, posso pensar que estamos no caminho certo para encontrar um (ou mais) novo(s) modelo(s) de negócio pro jornalismo digital?

  • Perfis e páginas em redes sociais

61% usa as redes sociais para divulgação. E aí a relação com o ponto anterior: não se atrelam aos portais, ok. Mas se apegam demais ao Facebook? Como se aproveitam dele pra pensar o jornalismo?

A pesquisa vai mostrando quais sites são mais usados e onde há mais popularidade dessas iniciativas e o Facebook, é claro, aparece em primeiro lugar (89% dos seguidores dessas iniciativas em redes sociais são do Facebook), seguido de Twitter, YouTube, Instagram, Google+, Linkedin e outros espaços.

E o Snapchat? Certamente está entre esses outros espaços, com um potencial ainda pouco explorado, mas prestes a explodir em uso, diante de alguns textos de usuários que venho lendo e (tentando) entender um pouco mais sobre esse aplicativo. Esse é um deles que eu acho bem bom pra pensar os usos do Snapchat.

  • Mobilidade

Outro ponto abordado na pesquisa que me chamou muito a atenção e que decepciona um pouco é sobre a mobilidade. Explico: 84% das iniciativas são adaptadas para dispositivos móveis, mas 63% NÃO possuem aplicativo para dispositivos móveis. Apenas 19% diz que está construindo, enquanto 18% não está nem construindo.

O aumento do uso desses dispositivos é incontestável. O relatório da Reuters do ano passado, por exemplo, mostra o crescimento do consumo de notícias através de smartphones e dispositivos móveis. Então é claro que se espera mais nesse sentido.

A apresentação desses primeiros resultados ainda aborda outros pontos que abrem espaço pra discussão, como a defesa de algumas causas por essas iniciativas. É outro tema que rende debate. Com certeza os próximos resultados dessa pesquisa são promissores para ampliar essa conversa.

--

--

Maria Clara Aquino
Linguagens e Práticas Jornalísticas

Maria Clara Aquino. Doutora em Comunicação e Informação. Pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos