Sobre a vez em que ganhei o Prêmio Adelmo Genro Filho

Alisson Coelho
Linguagens e Práticas Jornalísticas
3 min readOct 13, 2016

Demorei a escrever esse texto. E aprendi, fazendo pesquisa, que o não resultado é, muitas vezes, um resultado bastante interessante. Então a não escrita desse texto, pedido há uma semana, me diz alguma coisa.

Ganhei o Adelmo Genro Filho de Pesquisa em Jornalismo. E como não estou exatamente acostumado a ganhar, fiquei um tempo sem saber o que pensar sobre. Daí a demora em escrever esse texto.

Ouço falar do prêmio há bastante tempo. No final da minha graduação, meu então orientador de TCC, o professor Marcos Santuario, da Universidade Feevale, me orientou (olha a redundância) a inscrever meu trabalho. Enviei, mas tive a minha inscrição negada na época pela falta de um documento.

Fiquei três anos longe de qualquer texto acadêmico. Entre a graduação e a formulação do projeto de Mestrado não li um único artigo. Zero. Na elaboração do projeto, no final de 2012, foi que retomei algumas leituras, enquanto dava conta das pautas como repórter da sucursal de Zero Hora em Novo Hamburgo.

Esse período sem leituras me trouxe um prejuízo enorme no início do Mestrado. Tinha calafrios só de pensar em escrever um artigo, até porque muitos dos que líamos nas primeiras disciplinas eu tinha dificuldade em entender. A linguagem me escapava em alguns casos. Em outros, os conceitos iam mais longe do que eu tinha condições de chegar.

Não sei se o processo é igual para todo mundo. Mas naturalmente fui aprendendo a ler e a escrever. Comecei a descobrir coisas novas, e a ver coisas antigas com um novo olhar.

E entendi que queria fazer exatamente isso com a minha pesquisa. Ver coisas novas, e entender as antigas a partir de um novo olhar.

Voltei à preparação da dissertação com fôlego renovado. Ela foi derivada de uma inquietação que eu tinha como repórter. De que forma as críticas feitas pelos leitores impactavam os meus colegas de redação? Críticas. Eu tinha medo delas, mas em tempos de internet e redes sociais elas eram inevitáveis. Como repórter eu pensava nelas, mas sempre querendo distância. Como pesquisador, voltei para dentro da redação para entender o que de fato elas faziam.

Inicialmente, formulei a seguinte pergunta: qual a interferência da crítica formulada pelos leitores no jornalismo atual? E com ela fui para as redações dos jornais O Globo, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e Zero Hora.

Outra coisa que aprendi fazendo pesquisa é que muitas vezes mais importante do que o resultado é o processo. E assim, mais do que perceber uma possível influência das críticas no jornalismo, passei a me interessar pelos processos desencadeados por esses comentários nas redações.

No meio desses 5 mil quilômetros percorridos em três estados e no Distrito Federal, minha mãe descobriu um câncer extremamente agressivo. Eu digitava o texto da dissertação na poltrona de acompanhante do quarto no hospital.

Cito essas dificuldades, a minha de compreensão no início, e essa questão puramente pessoal, para dizer que tem coisas que não estão ditas em um trabalho desse tamanho. Mas elas estão ali para o pesquisador e ele precisa ir adiante. Para não desistir, tive uma orientação muito delicada da professora Christa Berger, que entendeu minha forma de trabalhar melhor do que eu próprio

Coletei os dados, li muito do que se escrevia sobre o tema. Construí a dissertação (disponível aqui), apresentei os resultados. E mais uma vez fui orientado a inscrever o trabalho no Prêmio Adelmo Genro Filho.

É impressionante como a gente pode se sabotar. Quase fiquei de fora da premiação. Mandei o trabalho no último dia, na última hora. Não vou dizer que ganhar era algo totalmente fora de cogitação, porque o trabalho foi bem avaliado por pessoas que entendem muito de pesquisa. Além da professora Christa, a banca final tinha José Luiz Braga e Marcia Benetti. E eles tinham dado 10 para a dissertação.

Ainda assim, não criei expectativas e fiquei bastante surpreso quando o e-mail entrou na minha caixa. No próximo dia 9 de novembro sigo para Palhoça (SC) para receber o prêmio. Até lá, talvez, saiba avaliar melhor essa coisa de ganhar. Uma amiga, em uma hipérbole, disse que era o Oscar da pesquisa em jornalismo. Não tenho um smoking. Por enquanto, sigo achando a sensação estranha.

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