A revolução da Base Nacional Comum Curricular

Edineia Werner
Linguarudo
Published in
3 min readNov 7, 2016

A proposta para a educação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está virando o ensino básico de cabeça para baixo

Fonte: Pixabay

A BNCC, proposta pelo Governo Federal do Brasil, juntamente com o Ministério de Educação e Cultura (MEC), está propondo verdadeiras revoluções na Educação Básica, tais como a proposta de ensino em tempo integral e a possibilidade de se trabalhar com escrita literária na Área de Linguagens.

A BNCC surgiu da necessidade de se ter um ensino homogêneo no país. Dessa forma, grande parte do ensino básico será comum a todas as escolas, seja da rede municipal, estadual, federal ou particular, ficando uma pequena parte para as particularidades culturais e comunitárias de cada região.

Mas vamos entender um pouco melhor como ocorre todo esse processo.

Para a construção da BNCC, foram reunidos grandes estudiosos das 4 áreas do conhecimento que constituem a Educação Básica. Além disso, toda a comunidade escolar pode opinar e sugerir por meio de um site da internet chamado de Portal da Base. Foram 12.226.510 contribuições. Em seguida, foram ouvidos os professores de universidades. Agora, a BNCC já está na terceira fase de construção. A previsão é de que, em 2017, ela seja aprovada e, em 2018, entre em vigor. Tendo seu início em 2015, espera-se que não leve mais de 2 anos para que seja encerrada a proposta final.

Na Língua Portuguesa foram pensadas diversas situações, tanto na escrita e leitura quando na oralidade e sinalização. Analisando os eixos de aprendizagem de Língua Portuguesa, foi possível perceber maior atenção à questão da oralidade, que atualmente tem muitos problemas. Outro ponto que recebeu atenção foi a forma com que se espera que seja trabalhado a literatura e a gramática. Segundo a BNCC, não há possibilidade de trabalhar gramática por meio da literatura, devendo esta ser olhada como fruição e como perspectiva de se colocar no mundo.

Outra alteração significativa para o ensino é a ordem cronológica dos conteúdos (principalmente em história e literatura). De acordo com a BNCC, os conteúdos partiriam da atualidade e encerrariam na antiguidade. Essa alteração teria como objetivo principal aproximar os alunos dos conteúdos, partindo da realidade deles e propondo novas relações. Segundo Luis Augusto Fischer, professor de literatura da UFRGS e escritor, há vários problemas nessa inversão, principalmente na divisão temporal por ano. Em um artigo da Zero Hora, Fischer diz: “se no segundo ano se estudarão os século 20 e 19, fica claro que no primeiro aquele ‘contemporânea’ se refere ao século 21 mesmo. E se impõe a pergunta, que faço desoladamente: temos nós alguma maturidade, como nação, como universidade, como circuito letrado, como o que quer que seja, para saber quais autores desses meros 15 anos merecem ocupar um ano inteiro entre três, no Ensino Médio? É de um presenteísmo lamentável!”.

Dentre as maiores alterações, estão a escrita literária e as modificações para o Ensino Médio. Na área de Linguagens, por exemplo, o Ensino Médio terá maior destaque para trabalhos com escrita, leitura e oralidade de forma relacionada. Nesse sentido, as mudanças são muito boas, pois, relacionando-se esses três pontos, a probabilidade de se ter resultados positivos é muito maior. Porém, há alguns problemas na nova Base.

Um dos principais pontos abordados se refere ao ensino em tempo integral, que, em primeiro momento, parece uma ótima ideia. O problema reside no fato de que os alunos que estão cursando a Educação Básica (em especial o Ensino Médio), em sua grande maioria, precisam trabalhar para complementar a renda da família, fato que impossibilitaria a frequência em turno integral.

Na análise da BNCC também é possível observar a dificuldade de aproximar o leitor da própria BNCC. Segundo Delaine Cafiero Bicalho, professora da UFMG, faltam “formas amigáveis que permitam ao leitor acesso à informação. Desenhos, diagramas que mostrem o movimento que está sendo pensado na articulação dos ‘objetivos de aprendizagem’ podem permitir uma leitura mais proveitosa”.

Nos resta agora aguardar a versão final da Base, para saber quais dessas novas ideias serão efetivamente implantadas e qual será a repercussão dessas transformações. O que sempre se espera é que as mudanças sejam para melhor e que a educação brasileira possa ser definitivamente alavancada.

Por Edineia Werner, graduanda em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos — UNISINOS

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