Livro didático de Língua Inglesa: mocinho ou vilão?

Estudo demonstra que o temido livro didático pode, na verdade, ser um fator positivo nas aulas de língua inglesa, tanto em escolas públicas quanto em privadas.

Fernanda Andrioli
Linguarudo
3 min readOct 23, 2017

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Fonte: <https://pxhere.com/pt/photo/880256>

Se você é professor ou aluno de língua inglesa, provavelmente deve estar familiarizado com a crença popular de que aprender inglês na escola pública não é possível, enquanto que, na escola particular, as chances de sucesso são maiores. A falta de um livro didático (LD) adequado na rede pública é um dos fatores que contribui para esta impossibilidade, de acordo com alguns autores.

Curiosa com este cenário, decidi, em 2016, investigar o uso do LD em escolas regulares, a fim de observar como esse material era utilizado na prática, bem como as percepções que professores e alunos tinham sobre ele. A pesquisa, que foi realizada para o meu trabalho de conclusão de curso em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, contou com a observação de aulas de língua inglesa em duas escolas (uma pública e uma privada), análise dos LDs utilizados em aula e entrevistas com professoras e alunos.

Os resultados obtidos contrariaram bastante as crenças que permeiam o LD: primeiramente, não foram encontradas diferenças significativas nos LDs utilizados em cada escola. Os dois materiais contavam com tópicos de discussão adequados aos níveis em que estavam inseridos, além de proporcionarem momentos de leitura, escrita, escuta, fala, gramática e vocabulário em todas as unidades. Vale lembrar que os LDs utilizados pela rede pública são regularizados pelo Programa Nacional do Livro Didático, que busca assegurar a qualidade dos materiais que entram nas escolas. A rede privada, por outro lado, conta com uma vasta gama de opções e normalmente utiliza livros estrangeiros que são igualmente qualificados.

Outro aspecto que contraria o senso comum são as percepções que professores e alunos possuem sobre o material. Em ambos os contextos, eram as professoras que viam o LD como inadequado ao nível sendo ensinado, enquanto que os alunos — em sua maioria — o viam como um instrumento facilitador da aprendizagem. Foi possível perceber, também, que ao mesmo tempo que os professores preocupavam-se com o nível dos aprendizes, deixando de fora atividades de leitura, escuta ou fala, os alunos afirmavam que queriam ser desafiados a praticar todas as habilidades e não focar apenas em gramática ou vocabulário, que era o que acontecia nas duas escolas. E não eram apenas afirmações da boca para fora; pude observar o quanto eles realmente se engajavam quando essas tarefas eram propostas em sala de aula.

Claro que devemos ter em mente que esses resultados não podem ser vistos como uma generalização, pois não representam a realidade escolar em sua totalidade. Contudo, esse estudo corrobora com achados de outras pesquisas que visam desmistificar o LD e mostrar que a superioridade do ensino privado em relação ao público não passa, muitas vezes, do nível das crenças.

Vale ressaltar, por fim, que não são apenas os recursos didáticos que salvarão as aulas de língua inglesa, mas sim a maneira como nós, professores, faremos uso desses recursos. Devemos sempre acreditar no potencial de nossos alunos e, mais importante, lembrar que temos o poder de adaptar o LD às necessidades de nosso contexto. Assim, podemos fazer com que ele seja o mocinho, e não o vilão, no processo de ensino e aprendizagem da língua.

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Fernanda Andrioli
Linguarudo

Formada em Letras Português/Inglês e mestranda em Linguística Aplicada pela UNISINOS.