Nesta noite, eu vou contar estrelinhas

Tamires Puhl Pereira
Linguarudo
Published in
3 min readNov 9, 2020
Ilustração: Diogo Puhl Pereira

— Não adianta, não consigo acreditar que tem mais estrelas no céu do que grãos de areia na praia.

— Não só na praia, mas na Terra toda. E não é tão fácil assim saber o número total. Algumas pessoas dizem que é infinito.

— Mas isso não é possível! Olha para cima, não podem ser tantas assim. Olhando daqui, acho que deve ter umas cem, no máximo.

— Mas isso é outra coisa. Você está falando das estrelas que você pode ver, e não de todas as estrelas que realmente existem. Deixa eu te explicar: não podemos contar só as estrelas que estão ao alcance dos nossos olhos, mesmo utilizando equipamentos e telescópios profissionais, porque há muito mais do que podemos ver. Muitos e muitos anos atrás, lá na Grécia Antiga, um homem tentou contar os pontos luminosos que enxergava no céu à noite. Ele chegou até 850.

— Ele foi mais longe que eu, então. Pensei que fossem, no máximo, cem.

— É que, naquela época, as pessoas olhavam mais para o céu. Elas precisavam dele para se orientar, para acompanhar a passagem do tempo e também para se divertir. Afinal, não havia TV, nem videogame, nem internet. Mas hoje se sabe que uma pessoa consegue enxergar, mais ou menos, 2,5 mil estrelas — isso se as condições forem excelentes e se quem estiver contando tiver um ótimo par de olhos.

— Como assim condições excelentes?

— Ah, excelente como uma noite sem nuvens, sem luzes atrapalhando. Na verdade, dessa maneira, há umas 8,5 mil estrelas que podem ser vistas no céu, mas a posição da Terra em relação aos outros astros nos impede de ver todas ao mesmo tempo. Mesmo assim, esse número é muito pequeno comparado ao total de mais de 300 bilhões de estrelas que existem só na Via Láctea.

— Via Láctea?

— Esse é o nome da nossa galáxia.

— Ah, bom. E o sol também é uma estrela, né?

— É sim.

— Mas, puxa, é tão difícil acreditar nisso tudo. É assustador!

— Eu não acho que isso seja assustador. Acho fascinante. Você não gosta de ficar pensando em quanta coisa existe nesse espaço todo?

— Não, porque acabo me sentindo muito pequena.

— Você não é tão pequena, o universo que é imenso. Pergunta para uma formiguinha. Ela vai concordar. É tudo uma questão de com o que você compara. Não existe grande ou pequeno, no fim das contas.

— Existe sim: o Universo! Pelo jeito, tudo cabe no Universo, e ainda sobra espaço. Mesmo com todas essas estrelas que você diz que tem. E por falar nisso, você acha que existe outro universo?

— Não é que eu acho, mas há muitos estudos dizendo que isso é possível.

— Minha nossa, está ficando cada vez pior. Isso não tem fim!

— E olha que ainda nem te contei que as estrelas morrem.

— Ah, não! Agora sim que eu estou com medo! Você quer dizer que estou olhando para estrelas fantasmas?

— Não é isso, foi maneira de falar. Não se preocupe! Eu quis dizer que elas se apagam, vão esfriando devagarzinho, não que morrem do mesmo jeito que as pessoas morrem, entendeu?

— Ainda bem! Mas se elas se apagam, como a gente enxerga elas lá em cima?

— Isso é um papo para outra hora, mocinha. Já está na hora de dormir. A noite está linda, mas você precisa entrar e ir para a cama. Amanhã cedo você tem que acordar e ir para escola.

— Tudo bem, papai. Mas, depois de tudo isso que você me disse, não vou conseguir dormir.

— Vai sim! Basta contar alguns carneirinhos e logo você cai no sono.

— Não! Já sei, tive uma ideia melhor. Nesta noite, eu vou contar estrelinhas.

Ilustração: Luciane M. W. Raupp.

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