O ensino de língua portuguesa para pessoa com surdez: desafios e perspectivas

Daiana Steyer
Linguarudo
Published in
2 min readOct 5, 2018

Você sabia que em 24 de abril de 2002 a Libras passou a ser a língua oficial da comunidade surda? A mesma lei instituiu que, ao se ensinar língua portuguesa (LP) para o aluno surdo, esta deve ser tratada como segunda língua, já que o surdo tem a Libras como sua língua, pois ela é dotada de todas as formas que viabilizam sua comunicação.

Em 2017, decidi investigar, em meu trabalho de conclusão de curso, quatro atividades em que a língua portuguesa foi trabalhada em sala de aula em uma escola para pessoas com surdez na região sul do Brasil. Esse trabalho esteve vinculado a uma pesquisa maior intitulada “Língua portuguesa e Libras nos anos iniciais do Ensino Fundamental de 9 anos: rumo ao letramento de surdos”, na UNISINOS. As observações das aulas foram feitas através de vídeos em turmas do ensino fundamental.

A justificativa para meu trabalho foi a necessidade de melhor compreender o contexto escolar surdo, principalmente quanto ao ensino de línguas. Alguns autores dos estudos surdos, como as gaúchas Lodenir Karnopp e Ronice Quadros, chamam atenção para o fato de que alunos surdos evidenciam dificuldades na aprendizagem da língua portuguesa escrita não provenientes da surdez, mas do método de ensino com que têm contato.

Ao voltar-me para as práticas utilizadas nas turmas alvo dessa pesquisa, deparei-me com atividades pedagógicas que pouco contribuem na formação de surdos letrados em português. Percebi que circula uma concepção de língua como código, em que se acredita que o aluno aprenderá por meio de um conjunto de regras. Para isso, as professoras utilizam-se de palavras soltas e descontextualizadas, desconsiderando os elementos que compõem todo o sistema de escrita. Fica subentendido, nesse caso, que, conhecendo esse código, o aluno poderá compreender e usar corretamente a língua.

Pude verificar a importância de (re)avaliar as práticas identificadas neste estudo e já apontadas, aliás, por muitos estudiosos da área. Entendo que é necessário continuar repensando as formas de ensino para que o surdo consiga chegar a uma escrita com significado e condizente com suas necessidades em seu meio social e cultural.

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