Perguntas: o que podemos fazer por meio delas?

Paola Gabriela Konrad
Linguarudo
Published in
3 min readOct 18, 2017
Fonte: https://www.flickr.com/photos/21496790@N06/5065834411

Para começar, proponho uma pergunta a respeito do funcionamento das perguntas. Confuso? Pode apostar que não. Você já parou para pensar naquilo que faz ou pode fazer através de uma pergunta? Nesta que você acabou de ler, por exemplo, eu realizei um pedido de informação. Aproveitando o gancho, é importante ressaltar que pedir uma informação é uma ação que aparece em muitas perguntas, por isso ela se mostra, para muitos, a ação padrão da prática de perguntar. Ainda assim, existe uma ampla variedade de outras ações que podemos desempenhar por meio de perguntas.

Para que possamos compreender melhor, o linguista Jan P. de Ruiter, organizador de um livro sobre as perspectivas formais, funcionais e interacionais da prática de perguntar, compara as perguntas com os porta-copos: os porta-copos funcionam para impedir que a mesa — ou a superfície sobre a qual está o copo — molhe ou fique marcada. Entretanto, eles também podem ser utilizados para outras finalidades, como, por exemplo, para anotar números de telefones, para fazer a divulgação de alguma marca sobre eles, dentre outras inúmeras possibilidades. Da mesma maneira que os porta-copos, as perguntas podem ser utilizadas para diferentes propósitos. Embora o mais comum seja o de pedir uma informação, as perguntas podem também servir para um simples pedido (Você pode ligar o ar condicionado?), um pedido de confirmação (Você vai à escola, né?), uma oferta (Você gostaria de experimentar o bolo que eu fiz?), uma sugestão (Por que não vamos ao outro restaurante?), um convite (Eu queria saber se vocês gostariam de almoçar em minha casa.).

Existem ainda as perguntas retóricas, e você já deve tê-las usado em algum momento de sua vida: Onde vamos parar com tanta corrupção acontecendo no Brasil? O que será do verão se no inverno o clima já está assim? Como você pode observar, elas não visam obter uma resposta, mas sim promover a reflexão sobre determinado assunto. Há, também, como sugerem as linguistas Alice Freed e Susan Ehrlich, perguntas retóricas que revelam uma opinião de descontentamento de um dos falantes com o seu interlocutor: Como você pôde fazer isso? Você está pensando que eu nasci ontem? Quantas vezes eu tenho que dizer a mesma coisa? Exemplos muito presentes no nosso cotidiano, não é mesmo? E eles confirmam que as perguntas não servem apenas como um pedido de informação.

Falando nisso, a linguista e analista da conversa Tanya Stivers realizou um estudo no ano de 2010 sobre o funcionamento de perguntas e respostas a partir de interações em inglês americano gravadas em vídeo e, para a nossa surpresa, constatou que apenas quarenta e três por cento das perguntas dos dados analisados desempenham a ação de pedir uma informação, resultado que comprova a multiplicidade de ações que as perguntas são capazes de revelar.

Essa variedade de ações da prática de perguntar é, também, resultado parcial da minha dissertação de mestrado, na qual analiso as ações desempenhadas por meio das perguntas feitas por policiais investigadores a suspeitos acusados de crimes de qualquer natureza em interrogatórios policiais de três delegacias de Polícia Civil da região Sul do Brasil. Além da ação de pedido de informação, encontrei nos dados — gravados em áudio e vídeo — perguntas que revelam as ações de pedido de confirmação, pressuposição, auto reparo (que é um recurso utilizado pelo falante em curso para lidar com problemas relacionados à sua fala) e a ação de formulação (utilizada para o falante verificar a sua compreensão sobre o que foi dito anteriormente na interação).

E agora? Depois de parar para pensar sobre o tanto que se pode fazer por meio das perguntas, que tal exercitarmos um pouco a mente? Você consegue perceber qual a ação realizada na pergunta destacada?

Por Paola Gabriela Konrad, mestranda em Linguística Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS.

*Se você pensou em sugestão ou em convite, bingo! Você acertou!

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Paola Gabriela Konrad
Linguarudo

Licenciada em Letras pela Unisinos/RS e mestra e doutoranda em Linguística Aplicada pela mesma instituição.