Produzir notícias PARA ou NA internet?

Eduardo Glück
Linguarudo
Published in
3 min readNov 7, 2016

Estudo mostra que muitas notícias são escritas para preencher espaços nos veículos midiáticos e não para divulgar a ciência

Ao longo destes quase dois anos como bolsista de iniciação científica, observo que muitas notícias de divulgação científica são produzidas NA internet e não PARA a internet. Há muitos textos que os autores escrevem a fim de preencher editorias, e não, de fato, de divulgar a ciência. Além disso, muitas dessas notícias são apenas informações replicadas de agências de notícias, sem qualquer tipo de explicação ou contextualização.

Minha pesquisa foi realizada na Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), no grupo Comunicação da Ciência: Estudos Linguístico-Discursivos, a fim de investigar estratégias dos autores das notícias para explicar temas/objetos do mundo sob a perspectiva científica e, ao mesmo tempo, para atrair o público leitor para temas da ciência.

Analisei notícias veiculadas na revista Superinteressante on-line em duas etapas: uma quantitativa e outra qualitativa. Na análise quantitativa, fiz a classificação dos diferentes comentários negativos dos leitores, pois foi a maior incidência de comentários feitos pelos leitores; na análise qualitativa, estudei a relação entre a presença/ausência de passagens explicativas e suas características.

Você deve estar se perguntando: “Mas quais são esses comentários, afinal?” Para exemplificar, trago, aqui, o comentário de uma leitora: “Deveria de ter mais desenvolvimento, não dá pra entender nada.”. Dessa forma, como podemos perceber, a leitora demonstra-se insatisfeita ao ler a notícia veiculada na internet.

Fica a pergunta: como evitar esse tipo de comentário e produzir uma notícia de divulgação para a internet, e não, apenas, na internet? Bom, a partir dos resultados obtidos durante minha pesquisa, trago algumas questões do que NÃO se deve fazer ao produzir uma notícia para a mídia: há, em muitas notícias e notas postadas na aba da Ciência da revista Superinteressante on-line, críticas feitos pelos leitores, pois, como eles afirmam, os textos demonstram problemas por não esclarecer o assunto divulgado, trazendo vozes da ciência para isso.

Conforme postula o linguista Jean-Michel Adam, especialista em Linguística do Texto, “compreender um texto é ser capaz de passar da sequência (ler-compreender os enunciados como vindo um após os outros) à figura (configuração inteligível de relações).”. Em outras palavras, o autor do texto precisa pensar em seu público-alvo, isto é, em seus leitores. Dessa forma, ter em mente quem são os eventuais leitores é fundamental para produzir uma notícia, pois o guiará na hora da escrita, a fim de promover uma melhor compreensão do assunto divulgado, evitando possíveis estresses e custos cognitivos para quem as lê.

Outro fator importantíssimo ao produzir uma notícia para a internet é pensar que cada notícia é uma notícia. Assim, muitas vezes, há uma contextualização no início do texto, principalmente quando o assunto abordado é um tema difícil e/ou muito específico, a fim de popularizar a ciência aos seus leitores midiáticos.

Portanto, produzir uma notícia de divulgação científica requer: conhecimento do assunto, embasamento teórico e ter em mente seu leitor, para que haja uma compreensão maior por parte dos que as leem e um ganho de credibilidade por aqueles que as escrevem.

Por Eduardo Glück
Graduando em Letras Português e Inglês. Bolsista de Iniciação Científica em Linguística Aplicada / Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS.

--

--

Eduardo Glück
Linguarudo

PhD in Applied Linguistics from Unisinos University. Mester in Applied Linguistics from the same institution.