“QUEM ESTÁ FALANDO?”: um estudo sobre as diferentes vozes em reportagens de divulgação científica

Maria Helena Albe
Linguarudo
Published in
2 min readAug 18, 2016
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No jornalismo, uma fonte de informação é alguém que testemunhou um evento e pode contá-lo com detalhes ao repórter. Outras possíveis fontes de informação são os especialistas em um dado assunto, entrevistados para esclarecer dúvidas, apresentar argumentos à matéria do jornalista e trazer um novo ponto de vista. Assim, quando um repórter escreve seu texto, ele identifica todas as pessoas com quem conversou e reconstrói o acontecimento segundo o olhar das testemunhas e a partir da interpretação dos especialistas consultados. Todo esse processo de produção de uma notícia ou reportagem revela-se por meio de uma série de indícios no texto escrito, os quais, reunidos, acabam por construir um sentido global.

Meu trabalho de pesquisa parte dessas constatações para entender como o jornalista traz os diferentes personagens, denominados tecnicamente de “vozes”, para elaborar seus argumentos. Por exemplo, todas as pessoas citadas concordam com o jornalista? Ou existe discordância? Ao longo do texto, quem parece ser mais contundente em termos de argumentos? Como essas ações são assinaladas no texto?

Nos textos de divulgação científica que estudo, publicados na revista Superinteressante, percebi que o jornalista emprega táticas diferentes ao apresentar as informações fornecidas pelas vozes que escolheu.

A mesma informação pode ser apresentada de maneiras distintas:

Com discurso direto: “Para que uma espécie sobreviva, ela precisa ter variabilidade genética”, explica o pesquisador Eduardo Melo, da Embrapa.

Ou com o discurso indireto: De acordo com o pesquisador Eduardo Melo, da Embrapa, uma espécie precisa ter variabilidade genética para sobreviver.

Ou ainda: O pesquisador Eduardo Melo, da Embrapa, explica que uma espécie precisa ter variabilidade genética para sobreviver.

Nesses exemplos, percebe-se que, apesar de a informação ser a mesma, o repórter pode dar a palavra à sua fonte, ressaltando que ela é uma autoridade no assunto, ou pode usar estratégias para não comprometer diretamente essa fonte com a informação que fornece. Com isso, o próprio jornalista também decide o quanto deseja assumir de responsabilidade por aquilo que divulga e se concorda ou não com os argumentos apresentados.

O objetivo do estudo que desenvolvo é olhar para as estratégias usadas por jornalistas quando comunicam ciência para leitores jovens.

Por Maria Helena Albé /Doutoranda em Linguística Aplicada da Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS

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