Teacher, não entendi! E agora?!

Fernanda Andrioli
Linguarudo
Published in
4 min readMay 19, 2020

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Quem estuda ou ensina inglês, provavelmente já se deparou com um cenário semelhante ao seguinte: a professora conclui, após uma longa explicação, “And that’s it. Alright? Did you understand it?. Após essa pergunta, o aluno, quase que em um impulso, responde “yes!”, ou só balança a cabeça mesmo, confirmando. Ao mesmo tempo, se pergunta: “será que eu entendi mesmo?”. A professora, do outro lado, com o relógio correndo e com os conteúdos acumulando, toma aquele “yes” como o sinal que faltava para dar continuidade à aula. Mas aí, agora, eu te faço algumas perguntas: será que o aluno realmente entendeu? E será que o professor estava realmente atento à checagem desse entendimento?

Pois bem. Foi exatamente pelo interesse nessas perguntas, que me dediquei a investigar as interações de sala de aula de língua inglesa durante minha pesquisa de mestrado. Eu foquei nesses momentos de checagem de entendimento, na tentativa de identificar as práticas que funcionavam melhor, e também aquelas que não funcionavam tão bem. A parte mais incrível de olhar para interações de sala de aula é que conseguimos ver o que realmente acontece ali, e, como professora, acredito que esse olhar me torna mais reflexiva e crítica com minha própria prática pedagógica (inclusive, recomendo essa reflexão para os colegas professores).

O que consegui observar foi, de fato, bem interessante: aquelas perguntas que os professores normalmente são orientados a evitar, como “Did you understand?” ou “Everything okay?”, mostraram-se bem eficientes na checagem de entendimento, desde que não fossem utilizadas sozinhas. Mas como assim? Seguinte: quando os professores utilizavam essas perguntas, o aluno respondia “sim” (como no cenário apresentado no início deste texto) e a checagem de entendimento parava por aí, muitos problemas interacionais e pedagógicos eram observados — aluno não realizando a atividade, perguntando a mesma coisa que fora explicada para um colega, ou, algum tempo depois, perguntando novamente a informação para o professor. No entanto, se depois daquele “sim”, o professor pedisse por respostas mais explícitas, como “Ah, então tu podes explicar para a turma o que tem que fazer?”, ou “Ótimo, então tu podes me dizer o que significa?”, os momentos de checagem se tornavam muito mais eficientes e, depois, o restante da tarefa/atividade fluía normalmente.

Mas, Fernanda, por que não usar direto, então, essas perguntas do tipo “tu podes explicar o que tem que fazer?”? Esse é um ótimo questionamento que talvez esteja passando por tua cabeça durante a leitura. Felizmente, posso te ajudar a responder, pois, um outro aspecto que observei nos dados foi que, quando essas perguntas eram produzidas diretamente (ou seja, sem aquele “did you understand?” inicial), nenhum aluno se engajava na interação, mesmo que o professor chamasse o indivíduo pelo nome. Talvez devido ao conhecido medo de produzir uma resposta considerada incorreta pelo professor (quem é aluno sabe do que estou falando, né?!). No entanto, quando essas perguntas vinham após aquele “did you understand?” inicial, algum aluno — mesmo que não fosse aquele que respondeu “sim” — engajava-se de uma forma ou outra, e a sequência tinha andamento.

Há, ainda, um último fator importantíssimo para esses momentos de checagem de entendimento: o nosso corpo. Sim! O nosso corpo! Os professores (com o que eu acredito ser uma espécie de super poder) muitas vezes iniciavam uma checagem de entendimento a partir da expressão facial de um dos alunos. Eles identificavam aquela “carinha de dúvida”, e, a partir daí, tentavam construir o entendimento com aquele aluno e com o restante da turma. Aos alunos que estão lendo esse texto: sim, às vezes a nossa expressão fala mais alto que a nossa própria voz. Esses momentos de checagem de entendimento se mostraram muito importantes para que os alunos conseguissem realizar a atividade com sucesso, mesmo sem que tivessem expressado algo verbalmente anteriormente.

Agora que você já está por dentro do que acontece nos processos de checagem de entendimento, lembre-se: como professor, é preciso estar atento aos alunos e fazer o máximo para garantir o entendimento durante as atividades pedagógicas. Especialmente pensando que, além da instrução ou da explicação — que, por si só, já é algo complexo — , há ainda o fator da língua adicional! Não devemos usar esses momentos como um “faz de conta só para não dizerem que não dei espaço para dúvidas”, mas realmente pensar nas práticas que funcionam com aqueles alunos naquele contexto específico[1]. Aos alunos, lembrem-se de que o papel do professor é ensinar. Está tudo certo em não entender o que está acontecendo de vez em quando. Usem esses espaços de checagem de entendimento para expressar como vocês realmente se sentem. Mas, se vocês forem tímidos e não gostarem de verbalizar um não-entendimento, caprichem na careta que, provavelmente, o professor vai notar.

Depois de expor isso tudo, finalizo perguntando: e aí, entenderam?

[1] Lembrando que os resultados descritos aqui são referentes ao contexto que eu pesquisei: um curso privado de idiomas da região do Vale do Rio dos Sinos. Ressalto que cada contexto pode ter particularidades diferentes, e não é meu objetivo generalizar os resultados encontrados em minha pesquisa.

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Fernanda Andrioli
Linguarudo

Formada em Letras Português/Inglês e mestranda em Linguística Aplicada pela UNISINOS.