Tradução: um trabalho simples ou uma experiência complexa?

Mikaela Luzia Martins
Linguarudo
Published in
3 min readJun 25, 2021

Você já teve dúvidas sobre como falar uma determinada palavra em inglês? E ao pesquisar pela palavra não encontrou uma resposta que fizesse sentido? Ou então, encontrou várias respostas e não sabia qual era a melhor opção? Se você já teve essas experiências, sabe como as pessoas que compilam dicionários, conhecidos como lexicógrafos, e como os tradutores se sentem. Encontrar termos em outro idioma não é tarefa fácil, e a culpa é das equivalências!

Foto: Dave Rutt

Muitas vezes é complicado decidir qual é a melhor maneira de traduzir uma palavra. Normalmente, as palavras podem significar mais de uma coisa e dependem do contexto para expressar o significado desejado. Em outros casos, as palavras podem não ter um termo em outra língua que tenha o mesmo significado. Mas, também existem palavras que se encaixam perfeitamente todas as vezes que as traduzimos!

A linguista polonesa Arleta Adamska-Sałaciak deu nomes a esses diferentes tipos de equivalências, que podem facilitar ou dificultar a vida de quem precisa traduzir. São eles: equivalente cognitivo, equivalente translacional, equivalente explicativo e equivalente funcional.

O primeiro tipo de equivalência, chamado de equivalência cognitiva, é o sonho de todos os professores, alunos e tradutores! É a equivalência que se encaixa muito bem no texto e não muda de acordo com a especificidade do contexto. Esse é o equivalente que aparece em vários dicionários e é também o equivalente que o Google Tradutor traz para os usuários na maioria das vezes (sabemos que isso nem sempre funciona). Um exemplo de equivalente cognitivo pode ser o termo “invisível”. Ele sempre será traduzido como “invisible”, tanto no sentido literal quanto no figurado. Além disso, o contrário também acontece: ao traduzirmos “invisible” para o português, o termo utilizado será “invisível”.

Já o equivalente translacional é aquele que funciona para uma equivalência a nível de texto e produz uma boa tradução quando aplicado de acordo com o contexto. Este equivalente não possui um significado idêntico em ambas as línguas, porém funciona em determinadas situações. Alguns dicionários de inglês e português apresentam várias traduções para uma mesma palavra e exemplificam qual equivalente se encaixa melhor em cada situação. Esses são os equivalentes translacionais, normalmente usados quando não encontramos equivalentes cognitivos.

O terceiro tipo de equivalente definido pela autora Arleta Adamska-Sałaciak é o explicativo. Como o próprio nome já entrega, este tipo de equivalência se trata de uma paráfrase, uma breve explicação do que estava sendo comunicado pela palavra sem tradução do texto original. Não se trata, portanto, de uma tradução de palavras, mas sim de ideias.

Por fim, o último equivalente definido pela linguista é o funcional. Este tipo de equivalência ocorre entre frases, não entre palavras. Muitas vezes, quando o tradutor vê a necessidade de realizar esse tipo de equivalência, as palavras utilizadas na tradução não são exatamente as mesmas — isto é, não contêm equivalentes cognitivos e translacionais -, porém a mensagem é idêntica.

Ao entendermos esses diferentes tipos de equivalência definidos pela autora, podemos compreender a complexidade da tarefa dos tradutores e dos lexicógrafos. Portanto, não devemos confiar tão cegamente em recursos como o Google Tradutor. Apesar de ser uma excelente ferramenta, o Google Tradutor ainda não consegue fazer os julgamentos necessários para a escolha das equivalências mais apropriadas.

É válido lembrar que esses são os tipos de equivalências definidos por apenas uma autora. No campo das Teorias de Tradução, existem muitos outros estudiosos que também se aventuraram por esse terreno fértil. E também é preciso lembrar que existem outras questões que interferem no trabalho do tradutor: diferenças e especificidades culturais, tempo de pesquisa extra para escolher a melhor equivalência, estudo de termos específicos, prazos, dentre outros. Para traduzir, é preciso técnica, metodologia e muito estudo. Apenas saber mais de uma língua, em casos complexos, não é o suficiente.

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