VIOLÊNCIA RURAL: Mulheres distantes da atenção pública e tão próximas da hostilidade masculina

Rafaela Hagemann Bajotto
Linguarudo
Published in
3 min readJun 29, 2020

Pesquisa mostra a realidade de mulheres que vivem em áreas rurais do Rio Grande do Sul e chama atenção para os altos índices de violência doméstica e para a falta de serviços públicos

É muito diferente a realidade do cotidiano de mulheres que vivem em áreas urbanas e rurais do Rio Grande do Sul. A disparidade se mostra em muitos aspectos, principalmente quanto à saúde pública e à atenção aos índices de violências sofridas por mulheres. Um estudo publicado na Revista Ambiente & Sociedade apresenta dados acerca desse problema. O objetivo da pesquisa foi analisar como os eventos de violência ocorrem e quais suas tipologias, em oito municípios de pequeno (até cinquenta mil habitantes) e médio porte (até cem mil habitantes) da metade sul do Estado, no período entre 2010 e 2013.

A pesquisa coletou informações a partir de 471 Boletins de Ocorrência (BO) com casos de violência contra mulheres em áreas rurais e as separou a partir dos seguintes critérios: tipo de violência, faixa etária, raça/cor, dia da semana, faixa de horário e flagrante. Além disso, foram analisados diversos dados relacionados às condições econômicas da região e comparadas a outras. Os resultados mostraram que os números nas áreas rurais são, proporcionalmente, maiores que os presentes nos grandes centros urbanos, considerando ainda a possibilidade de quantidade maior de casos não relatados. Mas por que “não relatados”? Os autores consideram que isso possa acontecer devido ao fato de que as vítimas têm dificuldade de acesso aos serviços de segurança pública. E piora a situação o contato familiar, sobretudo com o agressor, que dificulta ainda mais a realização de denúncias por medo de represálias.

“Verificam-se que os casos de estupro para a área de estudo, são, aproximadamente, 7 vezes mais prevalentes que os dados para o Estado em 2012 e 17 vezes mais para os dados de 2015”, informam os autores do estudo. Os números apresentam maiores casos de violência em mulheres com menos de 35 anos. Segundo os pesquisadores, o tipo de violência mais denunciada foram as lesões corporais, com 68,37% dos registros no período. Cabe destacar que os crimes sexuais representaram 27,18% do total de denúncias.

Taxa de lesão corporal e feminicídios, para os municípios do Rio Grande do Sul, no período de 2012 a setembro de 2015, segundo dados da SSP/RS. Fonte: SSP/RS, elaboração da figura BUENO, A.L.M, agosto de 2016. 1 Para cada 1.000 mulheres. 2 Para cada 10.000 mulheres.

Por que será que os índices aumentam na área rural? Infelizmente, esses municípios apresentaram dados que mostram grande desigualdade social, de gênero e uma prevalência de mulheres que estão em situações de vulnerabilidade por conta da dependência financeira do marido, que é na maioria dos casos, o autor da violência. Entende-se que essa relação ocorra por conta da falta de oportunidades nessas regiões, além da existência de fatores socioculturais como o machismo e uma cultura patriarcal. Contudo, a pouca assistência às vítimas contribui para que essas práticas tenham continuidade, pois os autores ficam impunes.

Os autores do artigo apresentam, além de números, a ideia de que a mudança de comportamento e a segurança devem ser asseguradas pelo Estado a partir de serviços de saúde, de proteção social e de acessibilidade às cidadãs.

Para ler o artigo: BUENO, A.LM.; LOPES, M.J.M. Mulheres rurais e violência: leituras de uma realidade que flerta com a ficção. Ambiente & Sociedade. São Paulo, v.21, p. 2–22, 2018.

Rafaela Hagemann Bajotto

Acadêmica do curso de Fisioterapia / UNISINOS

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