Acredite nos seus sonhos, contrate uma criança.

Pedro Bruno
Linha20
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2 min readJun 2, 2020

Sol.

Muito sol.

Um sol de rachar.

Beto só tinha três coisas na cabeça: uma coca bem gelada, como seria o campeonato que estava prestes a começar e de como odiava aquele futebol mal jogado dos times rivais.

Seu pai, Flávio, estava lá. Trocado, com camisa de titular se aquecendo e cumprimentando a velha guarda do bairro.

O garoto tinha um ritual “ vencedor”, como chamava. Com os cinco reais que o pai disponibilizava antes de cada jogo, comprava

um refrigerante e um espetinho com muita farinha e pimenta. Após o apito inicial, tinha doses homeopáticas de amendoim para cornetar os jogadores, uma rotina findesemanesca simples.

-Você quer beber e comer de graça hoje?

-Mas é claro! O que eu tenho que fazer?

-Cuida do bar enquanto eu jogo, beleza?

-Tá certo!

A conversa com o “Elias da Pitu”, dono do bar, foi o melhor acontecimento da semana.

Afinal, qual garoto gorducho não gostaria de uns petiscos de graça?

“ Faz um Rabo de Galo aí, baixinho”.

“Cadê o Elias? Fortalece naquela porção caprichada aí pra mim”.

“Me vê aquela canelinha de pedreiro, esse calor tá complicado”.

Mas quase como unanimidade, ouviu muitos “pendura aí pra mim”, e teve o jogo de cintura de pendurar apenas para os conhecidos.

Esses dias me encontrei com o Beto, ele me garantiu que foi um dia mágico. Naquele tarde ele se apaixonou por toda a bagunça e começou a entender seu pai.

Já eu, só pude sentir muita inveja, que adulto fã de uma boa farra não gostaria de um dia como esse?

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Pedro Bruno
Linha20
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Se o futebol moderno é o futuro, eu não quero mais viver.