Acredite nos seus sonhos, contrate uma criança.
Sol.
Muito sol.
Um sol de rachar.
Beto só tinha três coisas na cabeça: uma coca bem gelada, como seria o campeonato que estava prestes a começar e de como odiava aquele futebol mal jogado dos times rivais.
Seu pai, Flávio, estava lá. Trocado, com camisa de titular se aquecendo e cumprimentando a velha guarda do bairro.
O garoto tinha um ritual “ vencedor”, como chamava. Com os cinco reais que o pai disponibilizava antes de cada jogo, comprava
um refrigerante e um espetinho com muita farinha e pimenta. Após o apito inicial, tinha doses homeopáticas de amendoim para cornetar os jogadores, uma rotina findesemanesca simples.
-Você quer beber e comer de graça hoje?
-Mas é claro! O que eu tenho que fazer?
-Cuida do bar enquanto eu jogo, beleza?
-Tá certo!
A conversa com o “Elias da Pitu”, dono do bar, foi o melhor acontecimento da semana.
Afinal, qual garoto gorducho não gostaria de uns petiscos de graça?
“ Faz um Rabo de Galo aí, baixinho”.
“Cadê o Elias? Fortalece naquela porção caprichada aí pra mim”.
“Me vê aquela canelinha de pedreiro, esse calor tá complicado”.
Mas quase como unanimidade, ouviu muitos “pendura aí pra mim”, e teve o jogo de cintura de pendurar apenas para os conhecidos.
Esses dias me encontrei com o Beto, ele me garantiu que foi um dia mágico. Naquele tarde ele se apaixonou por toda a bagunça e começou a entender seu pai.
Já eu, só pude sentir muita inveja, que adulto fã de uma boa farra não gostaria de um dia como esse?