Pedro Bruno
Linha20
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4 min readApr 29, 2020

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Foi lindo, cara! O baixinho calou a minha boca.

Quarta feira, 20 de dezembro de 2000.

Estávamos eu, Renato e Jorge, tomando uma cerveja estupidamente gelada pós expediente.

Eu e Renato, corinthianos de coração, discutíamos como o futebol do time ia de vento em polpa só pra irritar Jorge, um são Paulino doente. Como a grana sempre foi meio curta, nossa diversão era tomar uma cerveja barata e tirar sarro dos rivais, sendo eles quem fossem.

-Romário é foda, né? Mas falando sério, não sei se o futebol dele rende por mais muito tempo não, muita balada pra atrapalhar. — afirmei convicto e embriagado.

-Cês vão ver só, a gente vai ser penta e o atacante na próxima copa vai ser o Sandro Hiroshi. — retrucou Jorge com aquele clubismo insuportável.

Toda vez que o Jorge começava a falar do São Paulo um silêncio absurdo pairava na mesa, aquele cara realmente conseguia ser o mais clubista da mesa.

-Falando do baixinho, consigo botar a gente na final da Mercosul hoje. Bora aí?

Acontece que o Jorge conhecia um cara que conhecia o primo de um policial que talvez estivesse fazendo a segurança do jogo, que foi o suficiente para aceitarmos na hora sem nem perguntar duas vezes.

Lá estávamos nós, bêbados e irresponsáveis entrando no meu Chevette e indo a toda velocidade ao parque antártica. Lei seca quem?

Pô, nós estacionamos o carro e parecia um inferno, só que verde. Logo na entrada encontramos o tal do policial e alguns outros conhecidos que usaram da nossa tática. Todos sabiam que éramos intrusos, o arrependimento começou a bater e decidimos ficar quietinhos na nossa.

A torcida estava maluca, aquele time chegou longe e todos sabiam que era louvável.

Começa o jogo e nosso nervosismo foi passando, por momento.

2 minutos de jogo e 3 ataques muito perigosos dos alviverdes. A gente se olhou e sabia que o chopp ia azedar para o nosso lado.

Lá para os 20 minutos, o Arce meteu uma pancada fazendo susto. Só pude ouvir em alto bom tom um “AI CARALHO” vindo do Renato, que já estava suando de nervoso.

O começo do jogo só teve escanteio mal batido e ataque desperdiçado. Num desses escanteios, acabou rolando uma confusão e um pênalti pra porcada.

Gol!

A torcida já vibrava, nossos colegas fazendo brincadeira com a gente enquanto tentávamos a onda. Até hoje me pergunto como aquele time do Vasco tomou tanto sufoco?

A bola rola, uma falha imbecil da defesa e mais um gol.

Por que diabos eu aceitei esse convite ?

Quando saiu o terceiro gol, já nos acréscimos, decidimos ficar só pra não sermos desmascarados.

-Isso tá sendo pior que se eu perdesse minha mãe e meu pai juntos, bicho. -choramingou Renato.

-É melhor a gente ficar e começar a sorrir, senão fodeu! — aconselhei.

Naquele intervalo eu comi um salgadinho que me desceu como se fosse um balde de terra, o clima estava horrível e eu extremamente arrependido de ter ido ao jogo.

Logo no início do segundo tempo, um pênalti não dado em cima do Euler.

-FILHA DA PUTA… — silêncio até me tocar o que havia dito — EXPULSA ESSA CARA POR SIMULAÇÃO!

Olho para o lado e meus dois parceiros de crime rachando o bico, fui escada para a distração de ambos.

Uns dois lances depois, mais um pênalti legítimo. Juninho Paulista caiu e o Baixinho pegou a bola pra bater.

Gol!

A torcida não se abalou e nem nós ficamos mais otimistas.

Passam- se 10 minutos e parece replay, outro pênalti seguido de gol para o gigante da colina. Eu comecei a me divertir vendo a torcida preocupada. O Romário estava começando a se soltar e todo mundo sabe o que acontece em seguida.

Inevitavelmente saiu o terceiro gol, Juninho Paulista, que partida. Nos olhamos e mutuamente fomos descendo as escadas para ir embora, a gente sabia que ia dar merda na arquibancada. Degrau por degrau sendo xingados, quase escorraçados, saímos como maus palmeirenses que não acreditavam no time. Que sentimento maravilhoso!

Correria até o estacionamento.

-Cadê a chave do carro? Vambora!

Entra no carro.

Liga o rádio.

Gol do Baixinho!

-Chupa porcada! Chupa!!!!! O time de vocês é uma vergonha!!

Um grupo reparou a gente ali e vazamos cantando pneu em direção ao primeiro bar longe do estádio.

Romário mandou a torcida se calar, representou a pequena parcela de vascaínos e nós, três intrusos na arquibancada da casa. Naquela noite não tinha essa de time de coração, nós comemoramos Romário. O baixinho!

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Pedro Bruno
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Se o futebol moderno é o futuro, eu não quero mais viver.