A várzea sobrevive: Jorginhos.

Pedro Bruno
Linha20
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3 min readOct 19, 2019

Hoje em dia eu não sei, mas quando era mais jovem, todas as crianças sonhavam em ser um jogador(a) profissional, ganhar milhões e ter tudo que sempre desejou na palma da mão.

Bem… nem todos!

Hoje venho trazer a história de Jorginho, um legítimo peladeiro que poderia ter sido o 10 da nossa seleção.

Como nossos leitores estão carentes de textos novos dessa coluna que vos fala, começarei citando uma frase de Nelson Rodrigues que é extremamente oportuna para o momento: “ O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência. “

Cabe a interpretação de cada um, equivocada ou não, as vezes uma decisão não parece ser certa.

Em 1996, acontecia a tragédia dos Mamonas Assassinas, a morte de Tupac, Carl Sagan e tantos outros. Para sorte de Dona Silvinha e Seu Jaime, nascia Jorge da Silva Santos. Legítimo brasileiro de pais divorciados, criado pela mãe e com finais de semana regados a loucuras com seu pai.

“Camisa do Palmeiras você apanha e do Corinthians te levo no McDonalds.”

Método estranho e nada tradicional, mas foi assim que descobriu o futebol. O moleque se apaixonou, e começou a entender porque o pai resmungava tanto por causa de um simples jogo.

Aos 9 anos, Jorginho trocou a pelada na rua por bolacha e vídeo game, estava ficando bem mais redondinho que o normal. Algumas recomendações médicas depois decidiu que seria goleiro.

— Sabe aquela história de goleiro, né?

— Eu sei pai, mas eu vou ser goleiro. Vou ser louco! Louco igual ao Fábio Costa!

Futsal, Society… Campo?

“ Vem jogar um campeonato com meu time, você vai se dar bem no campo.”

Na primeira vez que vestiu o uniforme aconteceu o de sempre, todo medo se esvaia e se transformava no maior pico de auto estima de uma vida.

Na várzea foram diversas conquistas prêmios individuais e boas amizades, mas sentia que precisava de algo novo, se profissionalizar.

O moleque não aprendia, chegava com pompa de boleiro em qualquer lugar. Essa marra lhe rendeu um convite, aos 15 anos, para se profissionalizar no seu time de coração, naquela camisa que um dia valera um sanduíche.

Logo nos primeiros treinos percebeu que não era o maioral, teria que segurar a onda e se logo se sentiu deslocado. Um verdadeiro estranho no ninho.

“ Acabei de passar as férias na França, fui ver alguns jogos do Lyon.”

Aquele lugar não pertencia a Jorginho, e ele sabia disso. Teve uma esperança e muita torcida da família, que infelizmente, não foram suficientes. Todos sabiam que aquele time da várzea que tanto conquistou respeito era a segunda casa do moleque.

Não é só a dificuldade de chegar lá, é como se manter lá. A base do clube já se tornou uma comunidade elitista. O futebol deixou de ser do povo há tempos, com suas luxuosas e novas arenas, público recatado que não aceita ver um jogo de pé, e ingressos surreais para um futebol de tão baixo nível.

Quando nós, do Linha 20, gritamos a plenos pulmões “Não ao futebol moderno” , sentimos a dor por todos, os Jorginhos, as Marias, TODOS!

Conto essa história em forma de protesto . Clubes virando grandes corporações e jovens cada dia mais vistos como moedas de troca, sobre isso que é nossa luta. Estamos contra isso!

NUNCA FOI E NUNCA SERÁ.

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Pedro Bruno
Linha20
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Se o futebol moderno é o futuro, eu não quero mais viver.