Uma tarde de domingo

Pedro Bruno
Linha20
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2 min readMay 20, 2020

23 de janeiro de 2015, semifinal copa São Paulo de juniores.

São Paulo x Corinthians

Eu, Corinthians e ele, São Paulo. Um clima forte de zoação no ar, nenhum dos dois levava desaforo futebolístico pra casa.

Nos reunimos e comentávamos como fazia tempo que não rolava uma semifinal tão interessante assim, ele adorava exaltar o eixo Rio - São Paulo.

-Time grande é só Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo e Vasco. O resto é só time de bairro que não deu certo.

-Mas e o Grêmio?

-Grêmio sempre foi um time fora da curva, mas eu não gosto de gaúcho não.

Começa o jogo e fica um silêncio enorme na sala. Durou 45 minutos.

Apita o juiz, final de primeiro tempo.

-Vai pegar um pão pra gente comer.

-Já vou!

Ele já estava de cama, não conseguia mais ficar em pé.

Começa o segundo tempo.

Durante os primeiros cinco minutos do segundo tempo, começou a tagarelar sobre times clássicos do São Paulo.

-O Raí não era melhor que o Sócrates, mas era muito bom de bola.

Antes de eu abrir a minha boca já emendava outro assunto.

-O melhor jogador que eu vi jogar foi o Rivelino, no futebol de hoje ele seria muito superior a qualquer um.

Eu ria e concordava. Afinal, como iria atrapalhar sua linha de pensamento?

-Quando eu era jovem, os times italianos eram os melhores, mas é que nunca jogaram contra os times do interior, não ia dar nem pro cheiro.

Eu só ouvia e sorria. O senhor estava tão magro que a dentadura já não lhe servia mais.

Final de jogo! Corinthians na final!

Presenciei esse lindo clássico e pouco me importei, aquele papo com o senhor foi muito mais gratificante.

Mal sabia que no dia seguinte já não estaria mais ao meu lado.

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Pedro Bruno
Linha20
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Se o futebol moderno é o futuro, eu não quero mais viver.