Iluminuras: projeto une literatura e bordado

Vitória Queiroz
Linhagem
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4 min readJun 19, 2019

O projeto vai além de um simples bordar. Os participantes se aprofundam nas temáticas, analisam o autor e estudam história do Brasil para criar a arte final.

O grupo Iluminuras é um projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará cujo objetivo é estudar obras literárias de escritores brasileiros. O diferencial desse projeto é que os membros, após estudarem o autor, bordam algumas cenas, trechos ou passagens do livro ou do conto analisado, de acordo com a própria interpretação.

Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Raquel de Queiroz foram alguns dos autores estudados pelo projeto que existe desde 2005. O Iluminuras foi fundado pela professora de literatura brasileira Neuma Cavalcante que chegou ao Ceará em 2004.

Os bordados estão expostos no Museu de Arte da UFC

A ideia do projeto surgiu a partir de uma prática de Neuma e de um grupo de amigas em São Paulo. Elas se reuniam para bordar sobre temas baseados em obras da literatura brasileira.

O Iluminuras está ligado ao Acervo do Escritor Cearense e também tem como objetivo atrair pessoas de fora da universidade e incentivá-las a leitura. O projeto já trabalhou com 8 obras e as bordadeiras já tiveram a oportunidade de exibir seus bordados em vários espaços, como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, o Teatro José de Alencar, o Museu da Imagem e do som e no Museu de Arte da UFC.

O projeto abre novas vagas semestralmente e funciona às quintas-feiras de 14h às 17h no auditório da biblioteca do Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará.

Bordadeiras

A professora Expedita Ricarte conheceu o Iluminuras por meio de sua cunhada e faz parte do projeto desde 2016. Seu interesse por trabalhos manuais sempre foi algo foi algo muito presente na sua infância, período em que aprendeu a fazer crochê sozinha.

Bordado “O recado e os recadeiros” por Expedita Ricarte

Durante seu processo de criação, a professora conta que pensa na imagem que ela quer bordar e a partir disso começa a desenhar. No decorrer dessa fase, Espedita continua estudando a obra para adicionar mais elementos no seu desenho. “Quando eu termino o desenho, às vezes eu pinto para ver que cores eu vou usar de linha. As linhas possuem números, então eu vou colocando em cada pontinho o número das linhas. A partir daí é que eu vou começar a bordar”, acrescentou.

Cada bordadeira possui seu ponto, isto é, borda de uma maneira própria. A jornalista Lúcia Galvão conta que não sabia bordar quando entrou no Iluminuras e acabou desenvolvendo um bordado que nem ela sabe identificar o estilo. “Eu descobri que o segredo era perder o medo de fazer e fui fazendo de qualquer jeito. Minhas colegas de bordado ficaram admiradas com o meu ponto e elas me perguntavam qual era o nome desse ponto e eu não sabia dizer”, disse.

O bordado de Lúcia foi denominado pelas colegas bordadeiras de “ponto marido”

Antes de iniciar o bordado final, Lúcia estuda cada elemento que irá preencher o trabalho finalizado, bordando-os individualmente. É o esposo da jornalista quem realiza os desenhos que compõem os seus bordados.

O bordado é visto por ambas como uma forma de se expressar e de colocar no tecido a visão delas de cada obra. “Na hora que a agulha entra no tecido, ela começa a caminhar por alguns caminhos que eu não tinha pensado. Eu vou deixando ela ir e quando eu olho, eu gosto”, finalizou a professora.

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Vitória Queiroz
Linhagem
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Estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará