A evolução do designer na Transformação Digital

Albert Cavalcante
LinkApi Solutions
Published in
7 min readSep 21, 2017

--

Já não é novidade que design e experiência do usuário são os conceitos que estão guiando as empresas mais inovadoras e disruptivas do mercado em busca de seus objetivos. Temos como exemplo os cases de empresas como: Apple, Airbnb, ContaAzul, Facebook, entre outras. O design cresce a passos largos em direção a um ponto mais estratégico dentro das empresas e menos ao fim de uma linha de produção de produtos e serviços.

Por mais que hoje tenha aumentado muito a procura e importância dos profissionais responsáveis por pensar na experiência entre marca e consumidor final, ainda não estamos vendo designers inseridos diretamente na parte estratégica da maioria das empresas.

Analisando o movimento das empresas que mais fazem sucesso no mercado, e as que se propõem a ter o mesmo sucesso, temos um ponto em comum: a Transformação Digital, um termo muito falado nos últimos tempos e que pode ser explicado de uma maneira bem assertiva pelo Thiago Lima em seu artigo Transformação Digital: O que um líder precisa saber nessa nova era.

Nos dias de hoje, quando o design deixa de ser apenas um dos entregáveis dentro das empresas e passa a ser uma questão estratégica no mais alto escalão?

O papel do designer mudou com a transformação digital e você tem que se adaptar a isso.

Me recordo claramente do meu começo de carreira como web-designer. Fazia layouts para intranets em SharePoint, algumas artes para materiais offline e online, fazia o HTML e CSS dos layouts que criava, se pensarmos num modelo Fordiano de produção, basicamente meu trabalho era do meio para o final da esteira dentro de um projeto de TI.

Eu só me preocupava em desenhar os layouts e aplicá-los, nada além disso, meu melhor amigo era o Adobe Fireworks (ô ferramenta fantástica para desenhar layouts e protótipos, quando foi anunciado sua descontinuação fiquei muito triste), o máximo que eu chegava perto de stakeholders dos projetos era no momento que ia buscar um café. Sério! Rsrs

Com o tempo, mudei um pouco minha função nos projetos, começando a organizar a taxonomia das páginas, e daquele momento em diante meu trabalho não era mais só desenhar telas, estava atuando em quase todas as etapas da esteira de produção dos projetos. E nessa época tive meus primeiros contatos reais com stakeholders, não só no café.

Tive a oportunidade de ingressar em uma empresa que estava entrando na Transformação Digital. Neste período a empresa estava em um momento de transição, tornando realidade a Transformação Digital. Tive a oportunidade de ver realmente como era o dia a dia de um designer que atua de ponta a ponta em um projeto.

Quando se fala em Transformação Digital, se fala em dar forma por meio da tecnologia, mas forma para quem? Para as pessoas! A Transformação Digital tem como essência dar forma a algo por meio da tecnologia, onde cria-se soluções para problemas reais, tratando as pessoas como o ponto crucial dessa transformação.

Tendo isso em mente, podemos afirmar que o designer é crucial para essa empreitada, atuando na concepção da solução a ser criada, sendo o principal responsável por:

  • Defender os desejos e necessidades dos usuários
  • Tangibilizar os desejos e objetivos de negócio
  • Avaliar a viabilidade técnica da solução a ser criada
  • Unir os pontos anteriores no intuito de garantir que o resultado seja positivo para todos os envolvidos.

Na Transformação Digital o designer deve estar ligado as áreas de negócios das empresas. É comum nestas empresas ver designers lidando diretamente com CEOs e colaboradores em cargos estratégicos.

Hoje em dia quando atuo em projetos tanto internos como em clientes, me reporto diretamente aos diretores, pois para o designer desempenhar seu papel com total assertividade ele deve estar alinhado com os objetivos estratégicos da empresa em que atua, entendendo esses objetivos para tangibilizar as ideias em soluções para produtos ou serviços.

No começo foi difícil, porque tive que adaptar meu modo de me comunicar. Os termos técnicos que eram comuns no meu dia a dia, já não eram tão comuns para meus novos interlocutores.

"Bom, problema deles se não entendem o que eu estou falando, certo? Errado!"

Adaptar meu modo de falar foi um grande exercício de empatia, onde tive que "colocar os sapatos" das pessoas que estava tentando interagir para entender seus desejos e necessidades, assim alinhando expectativas para entregar algo de valor, porque no final…

"Todos querem experiências marcantes"

Você escolhe um produto da marca X e não da marca Y… O produto da marca Y é mais barato e traz mais vantagens lógicas que o X, e mesmo assim, você escolhe o produto X. Por quê?

Alguns vão dizer que é pelo layout, design, ou algo parecido. Mas na realidade, é por causa da experiência, do serviço que lhe foi prestado, simples assim! Ou nem tanto…

Segundo Maquiavel o ser humano é, por natureza, um ser desejante, ele reconheceu que não temos a opção de não desejar, mas temos do que faremos com nossos desejos. Desejamos ganhar mais, ser mais felizes, ter um carro, acumular e aumentar o que possuímos. Procuramos nos preencher com algo, sejam com conquistas, emoções ou experiências. Assim, tendemos a nunca estar satisfeitos, estamos sempre procurando o algo a mais. Ao entender essa natureza, o designer deixa de somente projetar soluções e experiências por ser parte de sua esteira de trabalho, e começa a pensar o que ele pode ajudar a conceber que satisfaça esses desejos.

Todos os produtos e serviços são feitos de pessoas para pessoas, sem excessão, mesmo que muitas vezes pareça o contrário, os produtos ou serviços são feitos para preencher algum dos espaços que possam existir na vida e na rotina das pessoas.

Temos diversos exemplos de empresas que conseguiram criar produtos ou serviços que se "encaixam como uma luva" na vida das pessoas, podendo citar o VivaReal como um case brasileiro de sucesso, sua proposta de valor para as pessoas foi uma quebra de paradigma, mudando o modo como as as pessoas estavam habituadas a alugar imóveis. É legal citar também que eles tem uma cultura de UX (User Experience) muito forte na empresa.

Gosto muito deste artigo onde eles explicam o modelo de UX Review dentro de seus Squads, e como ele impacta diretamente no processo e resultado, ajudando a garantir a qualidade das entregas.

É papel do designer criar coisas que o mundo não sabia que precisava, mas essa função e percepção não é exclusiva do profissional designer, e sim do pensamento do design.

O pensamento do design

Antes de falarmos do pensamento do design temos que entender o significado da palavra design.

Design, do Latim designARE, “destacar, marcar, sinalizar”, de DE-, “fora”, mais -SIGNUM, “marca, sinal”. Se refere a “esboço, desenho, plano, projeto”

Segundo o significado da palavra, o papel do designer é destacar, marcar, sinalizar, planejar, projetar algo dentro de um determinado contexto de espaço e tempo. O designer então "marca algo" para quem? Ele mesmo? Não! Para as outras pessoas! Pode soar como uma afirmação óbvia, pois tendemos a acreditar que todos pensam igual a nós, mas na prática não é assim que a banda toca.

Geralmente, ao criar algo as pessoas se orientam por sua própria percepção de realidade. Isso geralmente faz com que elas não busquem o nível de empatia necessário para perceber a realidade do outro, algo crucial durante o processo de criação.

O case do iPhone é um exemplo excelente de como timing e empatia são uns dos fatores que podem definir o sucesso ou o fracasso de algo novo. O primeiro protótipo foi lançado ao mercado antes dos anos 2000 com basicamente a mesma proposta presente no primeiro iPhone da Apple, uma tremenda inovação para a época. Só que não vingou, porque as pessoas não conseguiram perceber valor naquele momento. Anos depois a Apple lançou seu smartphone e ganhou o coração de milhões. Engraçado, né? O que será que aconteceu? Simples, Steve Jobs conseguiu perceber a necessidade das pessoas daquela época.

Basicamente o pensamento do design é a capacidade de acertar o tempo de lançamento de algo? Não!

É a capacidade de entender, perceber e aprender as necessidades, objetivos e desejos de outras pessoas, possibilitando criar soluções úteis para suas vidas.

Conclusão

Olhe para as pessoas se quiser criar um produto ou serviço de sucesso. Algumas coisas podem nos ajudar neste processo, como conceitos de Design Thinking, Lean Startup, cultura de iteração, times pequenos e talentosos com profissionais interdisciplinares.

O papel do designer mudou muito com a Transformação Digital, onde ele está atuando diretamente orientado a estratégica de negócio, se desconectando de questões puramente estéticas e pensando diretamente na experiência como um todo, projetando para que ela seja positiva, independente do meio a ser utilizado. De novo, Transformação Digital é dar forma a algo por meio da tecnologia para as pessoas, independente da plataforma.

Fique sempre atento, curioso, aprendendo e usando de empatia. Não existem verdades absolutas! Cada contexto tem suas particularidades, cabe a você estar atento a elas.

E você, acredita que o designer vai se consolidar um dos pilares dentro das organizações que realizam a Transformação Digital? Quero saber sua opinião sobre o assunto, acho que ele não é discutido o suficiente, vamos trocar ideias… Um abraço!

--

--

Albert Cavalcante
LinkApi Solutions

Product Director @ Speedio | Developer Experience and Product-led Growth