Uma carta para a Aline

Gabriel Senra
linte
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4 min readFeb 4, 2020

Há cerca de duas semanas, a Aline assumiu o desafio de liderar o time de Growth aqui na Linte.

Ela me procurou e disse que a nova estratégia envolve a intensa produção de conteúdo pelo nosso time, e que se eu não desse o exemplo (e o primeiro passo), as coisas não iam funcionar. Em suma: ela me pediu para voltar a escrever.

Enferrujado que estou, resisti. Ela insistiu.

Aqui está a minha resposta pra ela:

Aline,

Confesso que não sei por onde começar, mas assim como você, aceito, de peito aberto, o desafio. Com um mix de frio na barriga e prazer, vou passar a escrever, com frequência, o que penso sobre o mercado bem como sobre a nossa estratégia e os nossos produtos.

Isso virá. Te peço um pouco de paciência. Hoje, antes do meu primeiro texto, quero te contar sobre quando tentei aprender a tocar violão.

O ano era 2002 e eu tinha 15 anos. Um belo dia, coloquei na cabeça que, assim como os garotos mais populares do colégio, eu queria aprender a tocar violão. Queria fazer parte da banda. Deixei a minha mãe maluca com esse assunto. O dinheiro era apertado, mas meus pais não mediam esforços para investir em mim. Em poucos dias, a convenci de que havia uma forte correlação entre o estudo da música e o desempenho em matemática, sem contar a importância dessa habilidade para o desenvolvimento criativo.

Tanto fiz que em poucos dias já havia um professor particular contratado. Eu faria aulas duas vezes por semana. Lembro, ainda, como se fosse hoje do dia em que saímos para comprar o bendito. Meu pai pegou algumas dicas com um amigo que era músico e lá fomos nós, em busca do violão ideal. Pesquisas, comparações e testes. Já que era para comprar, que fosse o melhor. Escolhemos o tamanho ideal e a marca mais famosa. O vendedor, ao se deparar com aquele adolescente mimado e os pais babando no novo músico em potencial, ainda empurrou uns acessórios a mais. A conta saiu cara.

Cheguei em casa, tirei foto e postei no Orkut. Eu já me sentia um músico.

O próximo capítulo é fácil de imaginar: depois de algumas semanas de aula (e um bom dinheiro jogado no lixo) eu abandonei a carreira musical. O tal professor “desistiu” depois de testemunhar a minha péssima performance e nenhuma evolução.

Olhando pra trás, é fácil entender: logo no primeiro dia, o que eu fiz? Postei uma foto e, na sequência, passei a noite organizando as MP3 das músicas que queria tocar. Salvei, imprimi e organizei partituras. Cheguei a criar a marca da banda no CorelDraw (programa de design famoso na época). Não encostei no violão.

A história, contudo, tem um final feliz. Emprestei (e nunca pedi de volta) o tal violão para um amigo. O nome dele é Paulo. Ele não ia fazer aulas, mas salvo engano, o irmão dele tocava bem. Ele começou sozinho e nunca mais parou. Hoje, entre uma audiência e outra, ele usa seu violão para compor e tocar músicas que, aposto, em breve vamos ouvir por aí.

Eu tinha o melhor violão, mas ainda assim, não consegui tocar uma música sequer. O que faltou?

Perseverança? Talvez. De fato, o Paulo, mesmo sem a melhor instrução, ficava lá horas e horas “tirando” as músicas até sair alguma coisa. Eu, diante da dor no dedo e do insucesso, corria logo para o computador, onde a música saía fácil.

Mas não é só isso. Sinceramente, penso que tenha faltado motivação genuína. Com um pouco de vergonha, hoje tenho a coragem de assumir que o que eu queria mesmo era ser como os garotos mais populares, da banda. Eu não ligava tanto para a música.

Para o Paulo, por outro lado, o show não era o mais importante. Ele usava o violão para se divertir e se expressar. Ele sabia que seria uma jornada difícil, mas estava disposto a se dedicar.

Se a gente parar pra pensar, Aline, essa história diz muito sobre o nosso desafio.

Nossa missão aqui na Linte é empoderar as pessoas a lutarem contra a burocracia em suas organizações, permitindo que exista um ambiente mais eficiente para fazerem negócios. Ajudamos empresas e profissionais inovadores a criarem e gerenciarem contratos de uma maneira mais simples, segura e transparente, e fazemos isso por meio dos nossos serviços e da nossa tecnologia.

Esta última, lembre-se, nunca pode ser um fim em si mesmo. O software, em qualquer contexto, é só uma ferramenta. O que hoje chamamos de “transformação digital” nada mais é do que uma mudança cultural. Não é, portanto, só sobre o violão, mas sim sobre encontrar pessoas realmente dispostas a aprender como tocá-lo.

Se essa história fosse hoje, aquele Gabriel de outrora atualizaria o seu Linkedin para algo como Músico 4.0 ou Future Guitar Master Blaster Player. Ele teria postado no Instagram vídeos das aulas, mas nunca teria coragem de se apresentar ao vivo.

O nosso time, você bem sabe, já está construindo um violão incrível, como se nunca viu.

Seu desafio, Aline, é encontrar e encantar os Paulos pelo caminho.

Conta comigo. Vai ser divertido.

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