Dívida urbana

Lispoeta | Лишь Поэт
Lisboa Possível
Published in
2 min readJan 4, 2022
Rossio nos anos 60

A NASA há pouco tempo andava desesperadamente à procura de programadores, e não de uma linguagem informática de moda, como Python, mas sim de uma usada nos anos 60. Não se trata de amor particular pelas coisas vintage: é porque deve manter em funcionamento as sondas espaciais lançadas há mais de meio século.

Nalgum momento a NASA deve ter falhado em substituir o código obsoleto com algo mais adaptável — e começou a amassar “juros” desta escolha técnica que dói ainda hoje.

No mundo de tecnologia isto chama-se dívida técnica, um termo eloquente para descrever os custos que as tecnologias do passado podem ter no presente. Isto para dizer o quê?

Olhem bem para a nossa Lisboa e notem que estamos a viver cheios de um flagelo parecido — dívida urbana.

O “código” usado para “escrever” a cidade ainda hoje é aquele dos anos 60, quando estacionar o carro no meio do Rossio era considerado progresso. Continuamos a programar para mais lugares de estacionamento e mais faixas de rodagem, enterrando o nosso dinheiro público — aquele IRS que sai das nossas contas bancárias cada ano — no sistema obsoleto que nos obriga a juros em forma de passeios distróficos, pulmões alcatroados e vidas atropeladas.

Mesmo se são de letras, cada um de vocês é programador do código urbano chamado Lisboa. Felizmente, não é preciso sermos astrofísicos para isso (já agora, os da NASA estão a observar a sonda a se afastar a 615000 km/h, levando consigo tudo aquele investimento). Com os nossos pés e com as rodas das nossas bicicletas podemos escrever a nova linguagem da nossa cidade.

Já nesta semana, convidem um amigo ou um familiar para fazer um passeio de bicicleta. Caminhem até o vosso café preferido. Experimentem uma viagem de comboio até a reserva natural mais próxima. E vamos ser directos: partilhem este artigo e subscrevam o nosso newsletter para juntos liquidarmos esta dívida urbana.

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