Encontro com a equipa do Carlos Moedas: vamos ajudar a caçar fantasmas?

Lispoeta | Лишь Поэт
Lisboa Possível
4 min readMar 5, 2022

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Entrem, entrem connosco no elegante espaço dos Paços do Concelho. Já apreciaram a cúpula toda pintada? Ser ativista não é só recolher assinaturas nas praças — isso tem vantagens turísticas.

Sabiam que estamos numa casa assombrada? O nosso objetivo é sacar à luz cada fantasma que poderia ter penetrado nesta instituição de mais de 10.000 funcionários. Equipados com perguntas e argumentos, somos Diogo, Ksenia e Rita — médico, empreendedora e engenheira química. Os nossos guias conhecem todos os recantos, já que são Gabriela Seara, adjunta do Carlos Moedas, e João Castro, arquiteto e assessor do Presidente.

Começamos com um fantasma mais fácil de apanhar, o nosso fantasma de estimação: o medo de ficar sem a ciclovia Almirante Reis. Precisamos de ouvir vezes sem fim que não vai acontecer. João Castro, em nome da Câmara Municipal, vai apresentar o projeto da ciclovia na próxima reunião aberta da Junta de Freguesia de Arroios, planeada para uma data por volta do dia 21 de Março. Este projeto apresentará uma ciclovia provisória. Se correr bem, provavelmente no futuro mandato e já com a participação do LNEC, a ciclovia provisória poderá tornar-se permanente.

O fantasma número dois é o futuro da Baixa onde pedalar hoje é só com uma bicicleta de montanha e frio na espinha. O João Castro, que costuma pedalar até a Câmara desde o Parque das Nações, diz que nem tenta ir pela Baixa acima, evita.

Se calhar por ter evitado tanto o perigo da Baixa é que ninguém na equipa reparou que o mapa operacional da rede ciclável que circula no escritório tem pouco a ver com a realidade. Diz, por exemplo, que já existe um conjunto de ciclovias na Avenida da Liberdade!

O mapa apresentado pela CML

Agora, o mapa também mostra ciclovias que deveriam ser construídas, embora sem datas. Aqui sim que aparece a ciclovia Almirante Reis. Também aparecem troços na Baixa. Ao mesmo tempo, desaparecem as esperanças para chegar de bicicleta até o aeroporto. A equipa do presidente acabou por concordar que o mapa não faz sentido: no próximo encontro já marcado para o dia 7 de abril esperamos ver o mapa real.

Descobrimos também alguns fantasmas mais difíceis de apanhar. João Castro diz que a cidade deve ser para todos, que devemos partilhar o espaço. É bonito, só que assim não fica claro quem deve ter prioridade: uma criança de bicicleta que vai à escola e pesa 50 quilos ou um adulto com duas toneladas de metal à volta. Na Lisboa Possível acreditamos que a cidade só pode ser para todos se é pensada para os mais vulneráveis. O teste é muito simples: olhem para a vossa rua e pensem se deixavam lá brincar ou pedalar sozinhos os vossos filhos. Andar de carro não é um direito fundamental, e não temos que o acolher. Menos ainda no centro histórico onde devemos praticar o prazer de estar, parar, conversar.

Mais um fantasma que apanhamos e que deve ser expulso dos Paços é a noção que o trabalho da Câmara é resolver o tráfego. Aquilo que temos que resolver é o bem-estar das pessoas. Temos que contar o número de pessoas que usam o espaço, não a velocidade do fluxo dos automóveis. Voltamos para o assunto com o qual começamos. A CML não sabe quantas pessoas passam no total pela Almirante Reis, mas fica preocupada com o trânsito de carros. Partilhamos a visão que deveríamos olhar para o número de pessoas, não carros. A nossa prioridade não é escoar o trânsito, mas facilitar a vida de quem vem a pé, de metro, de elétrico ou de bicicleta.

Acreditamos que este encontro fez várias fendas por onde possa passar a luz para desfazer os fantasmas. Não fiquem contentes só com desabafos nas redes: venham a audição aberta, lancem e assinem petições, falem em voz alta das vossas ideias. Têm videos de comerciantes a explicar como querem a rua onde trabalham? São proprietários de um café ou loja que quer anunciar a própria posição? Querem falar? Contem — quero@lisboapossivel.pt

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