Tuberculose em populações vulneráveis

Nando Costa
LISF UFC
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2 min readSep 20, 2014

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A tuberculose (TB), problema bastante antigo e sempre prevalente, continua como doença endêmica em nosso país. O Brasil é um dos 22 países priorizados pela OMS que concentram 80% da carga mundial de TB. Em 2009, foram notificados 72 mil casos novos, correspondendo a um coeficiente de incidência de 38/100.000 habitantes. As Unidades Básicas de Saúde receberam a incumbência, pelo Plano de Controle da Tuberculose no Brasil, de implementar ações de promoção à saúde, diagnóstico e prevenção da tuberculose, descentralizando para o nível municipal os cuidados para esta doença. As Equipes de Saúde da Família assumem, portanto, um papel fundamental para aumentar a adesão ao tratamento e reduzir os índices de abandono, além de trabalhar na imunização pela vacina BCG, coletar material biológico para diagnóstico, informar às Secretarias Municipais de Saúde e propor ações preventivas.

Alguns grupos representam um desafio maior para o tratamento da tuberculose nas UBS’s. Na nossa capacitação sobre TB em populações especiais procuramos especificar quais as melhores formas de abordagem, tratamento, acompanhamento e resolução da doença em pacientes tabagistas, HIV positivos, usuários de drogas, moradores de rua e privados de liberdade. Buscamos retratar, primeiramente, qual a realidade específica de cada grupo e qual o contexto de cuidado que pode ser mais adequado para garantir melhor qualidade de vida e de tratamento para o paciente.

O atendimento a moradores de rua, por exemplo, deve levar em conta que são sujeitos segregados, marginalizados pela sociedade. Não possuem endereço fixo, residência, telefone para contato…muitas vezes são nômades, portanto não pode ser exigido o vínculo ao tratamento em apenas uma unidade de saúde. A cooperação entre os serviços de saúde , portanto, deve prevalecer sobre a burocracia do sistema.

Pacientes privados da liberdade são infectados, geralmente, após o encarceramento. Convivem com outros doentes em ambientes fechados, com pouca ventilação e reduzidas chances de tratamento adequado, muitas vezes recorrendo ao tabagismo e ao uso de entorpecentes para alívio das angústias da reclusão.

Pensando nesses mais variados contextos, considerando que cada paciente tem origem sócio-econômica diversa, observamos que se torna fundamental individualizar cada atendimento e cada tratamento. O principal problema da tuberculose é o esquecimento. Os líderes e políticos se esquecem da pobreza associada, o que torna a mortalidade mais acentuada. E os pacientes se esquecem do quão estão doentes, abandonando o tratamento no início da remissão dos sintomas. O nosso trabalho, como profissionais de saúde, deve ser oferecer a essas populações o cuidado necessário para o retorno as suas atividades, sem nos esquecermos da realidade onde estão inseridos.

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