Murakami e o que nos toca em “Minha querida Sputnik”

Gabriel Vinicius
Literamais
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3 min readNov 28, 2016

Devo primeiro salientar que ler Murakami foi algo totalmente diferente do habitual, sempre nos vêm na cabeça a pergunta “ator asiático, será que é bom?”, e muitas vezes procrastinamos e deixamos de apreciar uma grande obra — erro que também cometi — por pura ignorância, mas ainda bem que não me deixei levar e espero que você também não se deixe.

Não tenho como expressar o impacto que “Minha querida Sputnik” causou, aquela sensação de alegria, de ter descoberto algo totalmente novo, misturado com os mais diversos pensamentos possíveis, a ponto de você não conseguir junta-los em uma linha cronologicamente aceitável. Sim, esse é o poder dessa obra que te deixa com muitas perguntas e poucas respostas, mas convenhamos, nem sempre tudo precisa de explicação, ainda mais em uma obra que utiliza o “Realismo Mágico”, onde o surreal faz parte do cotidiano.

Essa foi a primeira obra que li que usa “Realismo Mágico” como pano de fundo— me desculpem, preciso ler Gabriel García Márquez. A história gira em torno da adolescente Sumire que se apaixona por uma mulher 17 anos mais velha chamada Miu. Em determinado ponto do livro elas acabam viajando, e é só isso que posso falar, não quero me alongar e correr o risco de dar spoilers.

Para os que já leram, sabem do que estou falando, e para os que ainda não tiveram a oportunidade, fiquem sabendo que no final do livro acontece uma das coisas mais loucas que você vai ler na sua vida, uma explicação simples, mágica, intrigante, bizarra e acima de tudo normal, não porque ela é normal em si, mas sim porque naquele mundo, acontecimentos do tipo são regulares, eles simplesmente acontecem, então porque eu como leitor deveria estranhar?

“Minha querida Sputnik” reúne música clássica, referência a célebres autores, monólogos interiores muito profundos e uma trama que começa morna, sem dar sinais de desenvolvimento, mas que no final acaba nos fazendo ver os nossos relacionamentos afetivos de uma outra forma, palmas para Murakami.

“Então me ocorreu que, apesar de sermos companheiras de viagem maravilhosas, no fundo, não passávamos de duas massas solitárias de metal em suas próprias órbitas separadas. A distância, parecem belas estrelas cadentes, mas, na realidade, não passam de prisões, em que cada uma de nós está trancada, sozinha, indo a lugar nenhum. Quando a órbita desses dois satélites se cruzam, acidentalmente, podemos estar juntas. (…) Mas só por um breve momento. No instante seguinte, estaremos na solidão absoluta. Até nos queimarmos completamente e nos tornarmos nada.” (p. 132)

Acabei viciando no autor e logo em seguida li “Norweggian Wood” que não gostei muito, dei uma pausa e depois de um tempo li “Caçando carneiros”, que é bom mas que também não me causou o efeito desejado, por mais que as histórias sejam boas, o “Norweggian Wood” se foca mais nas relações amorosas dos adolescentes e o “Caçando Carneiros” envolve a busca por um carneiro mágico.

A minha dica para os que querem começara a ler o autor, é que comecem por “Minha querida Sputnik”, um livro curto, de fácil leitura e que vai te deixar pensando por um longo tempo.

Haruki Murakami

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Gabriel Vinicius
Literamais

Graduando em Ciências Econômicas na Unicamp e aficionado em Ficção Científica