Sobre Clube da Luta 2 e revoluções

Gabriel Vinicius
Literamais
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4 min readDec 5, 2016

Suas armas eram sangue

Começar a ler Chuck Palahniuk e me interessar por sua escrita foi difícil, no início repudiei por completo a sua literatura transgressiva, o uso de cenas nojentas e digressivas que pareciam não fazer nenhum sentido. Após a leitura de Clube da Luta em uma velocidade recorde apenas para dizer que eu já tinha lido, caso me perguntassem, decidi colocar todo esse estilo “creepy” de lado.

Mas digamos que com o passar do tempo eu fui compelido a ler mais sobre o autor — o mesmo que aconteceu com o Neil Gaiman — e decidi assistir o filme que foi baseado na obra, dirigido por David Fincher e também passei a ler mais sobre o autor, sua vida, os planos de fundo usados em suas obras e suas críticas ácidas feitas à forma de pensar da sociedade moderna. De tanto me animar com o material achado na internet, comprei Clube da Luta 2, lançada esse ano pela editora Leya, no interessante formato de HQ.

Cuidado, possíveis spoilers abaixo:

Na HQ que dá seguimento a história do livro — o filme tem um final um pouquinho diferente — , acompanhamos o nosso protagonista que se antes não possuía um nome, agora ele responde por Sebastian, casado com a Marla e pasmem, com um filho para cuidar, tentando todos os dias controlar por meio de medicamentos a personalidade de Tyler Durden. Cansada da vida sem graça, patética e com muita nostalgia, Marla decide enganar o marido e diminuir um pouco sua medicação, para se divertir com Tyler Durden, como nos velhos tempos, o que obviamente acaba não dando muito certo, na verdade, acaba dando muito errado, pois Tyler Durden agora quer destruir não apenas a organização da sociedade, mas sim o mundo todo no projeto ERGA-ZE OU MORRA.

Ideias nos cultivam

Não quero me alongar na história pois o propósito desse texto é outro, o mesmo propósito que me fez reverenciar Mr. Robot como uma forma única de expressão, uma ode ao que existe de mais genial nos dias de hoje: as inúmeras formas de se criar uma revolução e falar sobre ela.

Revoluções

Trecho no qual o propósito de Moisés é questionado.

O tema da revolução é muito presente na obra, a ideia de criar algo inovador, me deixa com a incontrolável vontade de fazer com que todos parem o que estão fazendo e leiam com urgência essa genialidade impressa em ilustrações.

Após o começo das Grandes Revoluções que se iniciaram na Inglaterra com a Revolução Gloriosa e que serviu de inspiração para a Revolução Francesa, tínhamos poucas formas de se opor ao estado com alguma imponência, muitas das vezes sendo necessário o uso de armas. Com o passar do tempo e o advento da internet, a forma de se organizar eventos mudou, temos a chance de planejar manifestações sentados em nossas cadeiras, no conforto de nossas casas, algo até pouco tempo inimaginável.

Seja um bando de malucos deslocados da sociedade ou um grupo de hackers altamente especializados, a sensação de se criar uma revolução com poucas pessoas nunca foi tão crível.

Edição de Sofrimentos do Jovem Werther da editora LPM Pocket

Outra ótima citação feita é a do clássico da literatura “Sofrimentos do Jovem Werther” do alemão Goethe, que conta a história de Werther, um adolescente que se apaixona por uma mulher casada e que no final comete suicídio por não aguentar viver um amor irrealizável. O desfecho do personagem acabou gerando uma onda de suicídios de jovens na Europa, onda essa que hoje leva o nome de Efeito Werther¹, e tudo para explicar brilhantemente que as vezes personagens fictícios vivem mais que seus leitores.

1 Uma onda de suicídios que ocorre após a morte de uma pessoa famosa, no caso de estrelas como Marilyn Monroe e Kurt Cobain.

Um ótimo diálogo que envolve crítica ao trabalho e Alexandre o Grande, tem como ficar melhor?

…suas ideologias manufaturadas da Ikea. Suas epifanias de lojas de segunda mão e seus posicionamentos políticos de brechó, esses sonhos de liquidação…

— Tyler Durden

Concluindo

Não sei se consegui passar todo o ânimo que senti ao ler Clube da Luta 2 que foi uma das melhores leituras do ano, por mais que não tenha agradado a todos — feito de propósito pelo próprio autor— , a continuação da célebre obra de Chuck Palahniuk ganha páginas coloridas e lindas ilustrações feitas pelas mãos do canadense Cameron Stewart.

O que vocês acharam da HQ? Por favor, comentem.

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Gabriel Vinicius
Literamais

Graduando em Ciências Econômicas na Unicamp e aficionado em Ficção Científica