Minha sombra cabe ali

Litera Tamy
Literatamy
Published in
3 min readJan 2, 2017
Capa do livro.

Se um conto de Leon Idris nunca é apenas um conto, seus romances estão longe de ser apenas romances.

Em Minha sombra cabe ali empreendemos uma viagem a Cristina, Minas Gerais, juntamente com o primeiro narrador, que retorna à terra natal de seu avô paterno. Há algo de toda cidadezinha mineira transcrito com a simplicidade poética que lhes é característica. Adentramos a casa dos Azevedo, recepcionados pelas boas vindas dos ares e dos habitantes de Minas, como se de certa forma também houvesse qualquer coisa nossa por lá e a lá pertencêssemos.

Ainda no primeiro parágrafo do livro, têm início as reflexões leonianas acerca do ser e do aproveitar sê-lo, descrições fluidas, isentas do determinismo, naturais a quem passa pela vida atento às possibilidades oferecidas por ela. As considerações íntimas do jovem narrador nos instigam a, junto com ele, expandir nossas percepções e enxergar além do aqui e do agora, produtos de um passado do qual nós nem sequer participávamos.

O que verdadeiramente está em jogo no romance é a identidade. A história do narrador moço vai sendo costurada com retalhos familiares e as similitudes com seus antepassados são descobertas gradativamente, no tom de raiz que casa perfeitamente com a aura despojada de Minas Gerais. A revinda às origens é em tal grau fundamental que Cristina do século XXI abre espaço àquela de tempos passados e o narrador dá voz ao avô Armando e suas reminiscências, trazendo com ele personagens extremamente cativantes, que nos envolvem em laços afetivos.

Como em toda boa autoficção, as barreiras entre fábula e realidade tornam-se ainda mais tênues com o aparecimento de acontecimentos e figuras históricas, mesclados ao destino de Armando, cujas preferências culminarão no estado atual do neto. Embora amiúde semelhantes, as disparidades entre as nuanças dos dois narradores foram sabiamente pontuadas com sutileza, perceptíveis na medida exata para manter as particularidades de cada um em sua própria investigação por si mesmo.

O livro é de tal modo atrativo, que aos poucos também assumimos a posição do neto e do avô, percorrendo páginas já escritas por outrem, para, quem sabe, nos depararmos com algo sobre nós. E de fato nos deparamos.

Minha sombra cabe ali desenvolve a influência da ancestralidade para questionar até que ponto nossas sombras já estavam sendo formadas enquanto ainda éramos ausência. Sublime desde o título até a última página, o livro revela, assim como a primeira publicação de Leon Idris, uma inquietude produtiva, tão bem exposta e potente que carrega consigo quem estiver no caminho. Ao terminar a leitura, que continua reaparecendo e indagando por tempos depois de finalizada, nos vemos como soma, conjunto de escolhas, indissociáveis do restante do universo, nossas sombras caminhando de mãos dadas com tantas outras…

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