uma resenha de Carolina Feltrim (carolina b. feltrim).
“Cem Anos de Solidão” é uma epopeia de realismo mágico escrita por Gabriel García Marques, que nos revela gradualmente a ascensão e queda da família fundadora de uma cidadela fictícia na Colômbia, Macondo, juntamente com sua emblemática relação com os ciganos.
Apesar de longo e recheado de informações em todos os centímetros das páginas, conseguimos sentir o ardor da trajetória dos Buendía a cada fonema, principalmente quando o assunto está voltado para Úrsula Iguarán, a matriarca da família. Uma mulher intacta por sete gerações.
“O segredo de uma boa velhice nada mais é do que um pacto honesto com a solidão.”
Com o passar das divertidas e passionais desventuras das longas linhagens de “Aurelianos” e “Josés Arcadios” (batizados propositalmente com os mesmos nomes de seus antecessores), somos apresentados a uma trama que passa a se tornar, até certo ponto, política. Há quem diga que é inclusive uma grande metáfora para o rumo que levou a história da América Latina a perder as estribeiras.
O autor trabalha um dos meus pontos favoritos em um livro: a dualidade de comportamentos, introvertidos e extrovertidos, simplórios e voluntariosos. Vemos pessoas boas e más, algumas muito boas e outras extremamente cruéis — sem contar com os pontos mais problemáticos e sensíveis. Foi um livro que me fez ser capaz de enxergar certos toques de magia na nossa realidade.
“Só ele sabia então que seu coração atordoado estava para sempre condenado à incerteza.”
Entretanto, não foi somente a escrita envolvente de “Gabo” ou a identificação com o estilo de vida latinoamericano que prendeu minha atenção. O detalhe que realmente prendeu minha atenção quanto ao livro estava ao perceber o sopro em que se passa uma vida inteira.
“Sentiu-se esquecido, não com o esquecimento remediável do coração, mas com outro esquecimento mais cruel e irrevogável que conhecia muito bem, porque foi o esquecimento da morte.”
É apenas uma questão de alguns capítulos (ou talvez até páginas) para que já sejam suficientes de ver alguém nascer e morrer. Não parece real pensar nisso, mas esse livro me fez aceitar um pouco mais sobre a dolorosa verdade que engloba nossa espécie miserável, com um brilho no olhar que pode se apagar a qualquer segundo.
Foi uma leitura que me fez refletir muito quanto as paixões e etapas que passamos ao longo da vida e sobretudo no fim dela. Está na importância de viver todos os momentos como se estes fossem o último e valorizar as pessoas ao seu redor enquanto elas ainda estão por perto.
“O grito mais antigo da história da humanidade é o grito de amor.”