doce

andy souza
literato
2 min readJun 29, 2021

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doce é a união da tua boca com a minha, quando as duas necessitam-se tanto que são atraídas uma para a outra feito dois imãs. nestes polos tão invertidos, aos quais pertencemos, perco-me em seu fascínio, deixando a adrenalina percorrer a minha matéria e transformar aquela costumeira solidão em marchinha de carnaval.

glorioso é o seu hálito quando evapora nos segundos ritmados pelo meu coração de maneira tão suave, no instante em que o seu tom agridoce acaricia os meus lábios.

você brinca com o desafio e disfarça-se de mistério, e eu tento ser uma detetive para solucionar cada uma das suas pistas, mas raciocinar torna-se algo impossível nas horas em que estou alcoolizada pela sua dedicação para com as minhas entrelinhas, que parecem caber exatamente na ponta dos seus dedos.

o resultado de tudo isso é o pigmento vermelho, causado pelo atrito das nossas cores em uma ligação tão pura, provinda das nossas matérias brutas e sabores misturados, todos obtendo um mesmo desfecho; terminamos sendo vertidos em um só compasso. e assim, você toma tudo de mim, ao passo que eu alcanço o ápice do frenesi.

e como se não bastasse, você não impregna-se apenas da minha língua, como também desce rasgando feito maresia, cintilando pelo meu pesar e arrancando um cadeado por vez, até que os meus braços abriguem a excitação e confortem a sua total entrega nessa minha fiel doação aos sentimentos. dessa forma, usufruímos da simples sensação que é a reciprocidade, emitindo em nosso contraste o som de ambas as falhas batidas causadas por esse entrelaço em que nos transformamos.

eu sei que nenhum vício traz benefícios para a saúde, porém estou pensando em fazer de você a minha exceção, cogitando abandonar-me para sempre em nossa quente morada e ser acordada por todos os sorrisos que terei de você, e das curvas que o seu universo soletra ao pé do meu ouvido.

não é como se eu conseguisse parar, continuo fora de foco e capturando o seu fôlego para mim, fazendo de tal gesto, as respostas que você precisa guardar em sua alma e aquela segurança que busco encontrar em minhas preces não ditas durante as madrugadas em que te pedia para ficar.

é assim que digo, sem exatas palavras e traindo as minhas defesas, quando a dopamina em meus átomos desenha atalhos até o seu paladar, esforçando-se para fazê-lo lembrar que tens a mim e que eu poderia ser o teu a(mar), sempre quando quiser ser marinheiro dessas minhas ondas nem tão agridoces assim.

eu só torno a pedir silenciosamente que isso não acabe. enquanto continuo sentindo a sua boca destrinchando a minha, caio nessa relva do flutuar mais uma vez e só trago a certeza de que poderia passar o resto dos meus ares saboreando o incrível gosto doce do seu amar.

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andy souza
literato

pseudo-várias coisas relacionadas ao viver, especialmente em ser escritora.