Equilíbrio
Fecho os olhos. É como uma música sem letra.
Escuto a melodia, dançando suave ao meu redor.
Como a sombra que some junto com a luz.
Como a história contada que ouvi tantas vezes e
não me lembro.
É como uma coisa que sinto; ouço vibrar
dentro das minhas cordas vocais e reverbera sob
a corrente sanguínea, encontra os meus ossos
e ocupa cada milímetro de espaço do meu
corpo.
Mas não há conhecimento. Não há familiaridade.
Não sei dizer de onde vem, e porque insiste em ficar
mesmo após os dias mais quentes de verão.
A sombra grudada à mim como uma nova extensão
de quem eu sou. Em confusão, lutando
para que sejamos duas partes de um mesmo lado.
Desejo voltar para a casa. Não a conheço. Desisto.
Continuo a sentir.
É como um espaço em branco, ele canta pra mim
e eu o acompanho — esperando encontrar uma razão
consistente para os dias em que o azul do céu
é frio demais para mim.
E para os dias em que é mais frio aqui,
do lado de dentro.
Tenho escrito muito sobre as dores do peito
que não se curam, em despreparo de quem
nunca viu a vida tão de perto (e ao mesmo tempo
achar-se tão distante).
Talvez seja a única coisa da qual ainda me recordo
depois de pular por buracos grandes demais para os
meus pés.
Os muros não podem ser altos demais desse lado,
não quando meu corpo ainda precisa de espaço para se restituir,
ou escolher por me derreter e permanecer no chão
em contato com algo sólido. Real.
Mover-se com o vento e encontrar a linha de meu colapso
com a primeira versão dos meus tempos que não voltam.
Porque o tempo não retrocede, mesmo que eu encontre durante à
noite nos cantos do meu quarto e em pequenos pedaços do que escrevo
esperando que te encontre em momentos menos dolorosos.
A destruição não faz sentido quando seu coração
implora por misericórdia.
E não faz sentido prezar pelo coração das pessoas
pelas ruas da cidade, quando não se
pode acudir a pequena garotinha
em prantos
dentro de mim.
[Você precisa deixar ir.
E se deixar ir ao mesmo tempo.]