créditos de imagem: Tatiane Silva.

Equilíbrio

Thaíssa Carvalho
literato
Published in
2 min readJul 17, 2021

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Fecho os olhos. É como uma música sem letra.

Escuto a melodia, dançando suave ao meu redor.

Como a sombra que some junto com a luz.

Como a história contada que ouvi tantas vezes e

não me lembro.

É como uma coisa que sinto; ouço vibrar

dentro das minhas cordas vocais e reverbera sob

a corrente sanguínea, encontra os meus ossos

e ocupa cada milímetro de espaço do meu

corpo.

Mas não há conhecimento. Não há familiaridade.

Não sei dizer de onde vem, e porque insiste em ficar

mesmo após os dias mais quentes de verão.

A sombra grudada à mim como uma nova extensão

de quem eu sou. Em confusão, lutando

para que sejamos duas partes de um mesmo lado.

Desejo voltar para a casa. Não a conheço. Desisto.

Continuo a sentir.

É como um espaço em branco, ele canta pra mim

e eu o acompanho — esperando encontrar uma razão

consistente para os dias em que o azul do céu

é frio demais para mim.

E para os dias em que é mais frio aqui,

do lado de dentro.

Tenho escrito muito sobre as dores do peito

que não se curam, em despreparo de quem

nunca viu a vida tão de perto (e ao mesmo tempo

achar-se tão distante).

Talvez seja a única coisa da qual ainda me recordo

depois de pular por buracos grandes demais para os

meus pés.

Os muros não podem ser altos demais desse lado,

não quando meu corpo ainda precisa de espaço para se restituir,

ou escolher por me derreter e permanecer no chão

em contato com algo sólido. Real.

Mover-se com o vento e encontrar a linha de meu colapso

com a primeira versão dos meus tempos que não voltam.

Porque o tempo não retrocede, mesmo que eu encontre durante à

noite nos cantos do meu quarto e em pequenos pedaços do que escrevo

esperando que te encontre em momentos menos dolorosos.

A destruição não faz sentido quando seu coração

implora por misericórdia.

E não faz sentido prezar pelo coração das pessoas

pelas ruas da cidade, quando não se

pode acudir a pequena garotinha

em prantos

dentro de mim.

[Você precisa deixar ir.

E se deixar ir ao mesmo tempo.]

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