“Flores para Algernon” e o quão cruel o ser humano pode ser — uma resenha de Camila Chagas

Camila Chagas
literato
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3 min readSep 9, 2021

Narrado em primeira pessoa em forma de relatórios de progresso, Daniel Keyes nos apresenta em Flores para Algernon, Charlie Gordon, um homem de 32 anos que possui uma deficiência intelectual grave com 68 de Q.I.

Em uma nota no início do livro os editores nos contam que o autor passou anos reunindo inspirações para o livro, mas que o incentivo final veio de um aluno de uma turma especial de jovens com baixo Q.I. em que Daniel Keyes lecionava inglês, o aluno havia questionado se poderia tornar-se inteligente caso aumentasse o seu esforço.

“Só quero ser esperto como as outras peçoas para poder ter amigos que gostam de mim.”

O protagonista trabalha em uma padaria e estuda em uma escola para adultos especiais, seu maior sonho é ser inteligente. Quando a professora Kinnian percebe o interesse dele decide apresentá-lo a um projeto desenvolvido por uma universidade para tornar inteligentes pessoas com déficit intelectual.

“Quero que eles mi usem porque a professora Kinnian disse que tal vez eles possão mi fazer intelijente. Eu quero ser intelijente”

Charlie não hesita e torna-se o primeiro ser humano a passar pelo procedimento, antes e após a cirurgia Gordon escreve relatórios de progresso depois de ser instruído pelo Doutor Strauss como uma forma de acompanhar todo o processo e também de ele se lembrar dos acontecimentos.

A cirurgia acontece com sucesso e isso nos é informado na sinopse, mas Charlie fica mais inteligente que os próprios professores da universidade. Agora ele começa a perceber coisas que não notava antes, começa a descobrir como a humanidade pode ser cruel e a recordar de todos os momentos e pessoas ruins que estiveram em sua vida.

“Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil. Comecei a ver que, por meio do meu surpreendente crescimento, eu os fiz encolher e enfatizar suas inadequações. Eu os havia traído, e eles me odiavam por isso.”

Flores para Algernon apesar de ser uma ficção cientifica é um livro muito fácil de ser lido quando pensamos em linguagem, mas doloroso em seu conteúdo. Acompanhar a vida de Charlie não é fácil, principalmente sabendo que na vida real existem muitas pessoas assim, que estão sempre dispostas a julgarem aquele que é diferente.

O livro deveria ser leitura obrigatória nas escolas do Brasil assim como é em diversas escolas dos Estados Unidos. Charlie Gordon deseja tanto aprender alguma coisa e se julga tão inferior aos outros quando na verdade já tem tanto a nos ensinar.

Gatilhos: capacitismo, violência, abuso e bullying.

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Camila Chagas
literato

apaixonada por livros e por ouvir histórias dos outros. quando o mundo fala muito alto eu escrevo livros.