O poder da descoberta do amor em “Tudo E Todas As Coisas”
Publicado em 2015, Tudo E Todas As Coisas nos apresenta a história de Madeline Whittier, uma jovem de 18 anos que ainda bebê foi diagnosticada com Imunodeficiência Combinada Grave (IDCG) e, consequentemente, nunca saiu de casa. Ao conviver com a síndrome rara e fatal, qualquer coisa é capaz de desencadear algum tipo de reação na personagem — seja uma alergia ou algo mais grave -, com o risco de levá-la a morte. As únicas pessoas com que Maddy tem contato são sua mãe, uma médica, e sua enfermeira, Carla. Suas aulas são todas online e raramente é possível que encontre seus professores — os quais devem se submeter a um longo processo ao vê-la pessoalmente, mantendo sempre uma distância aceitável.
“Às vezes releio os meus livros preferidos de trás para a frente. Começo com o último capítulo e leio de trás para a frente até chegar ao início. Quando se lê dessa forma, os personagens vão da esperança ao desespero, do autoconhecimento à dúvida. Nas histórias de amor, os casais começam juntos e terminam como estranhos. Os romances de formação se tornam histórias sobre como perder o rumo. Os seus personagens preferidos voltam à vida.
Se a minha vida fosse um livro e eu o lesse de trás para a frente, nada mudaria. Hoje é o mesmo que ontem. Amanhã será o mesmo que hoje. No Livro De Maddy, todos os capítulos seriam o mesmo.”
A casa onde mora tem regras de desinfecção de forma que todo ar de fora é filtrado antes de entrar em contato com a menina. Madeline passa os dias sendo observada e não se importa com as exigências, visto que não conhece outra forma de viver. É interessante, ainda, acompanhar a relação de amizade entre mãe e filha — que juntas mantêm uma rotina de jogos diversos, filmes e jantares.
Além do mais, Maddy é apaixonada por livros e tem um blog onde cria resenhas sobre. É bom conhecermos suas leituras e textos com spoilers; apesar de saber que nunca sairá de casa, percebemos que, no fundo, por mais involuntário que seja, ela ainda possui alguma esperança. Sentimos isso logo no início do livro quando revela seu hábito de anotar o próprio nome nos livros e as recompensas caso alguém encontre um deles se perdê-los. Ela sabe que as obras não vão sair dali, mas cria situações que adoraria passar com outra pessoa.
As recompensas são:
“Piquenique comigo (Madeline) em um campo cheio de pólen vindo de papoulas, lírios e um sem-fim de cravos sob um céu azul.
Chá comigo (Madeline) em um farol no meio do Oceano Atlântico no olho do furacão.
Mergulho com snorkel comigo (Madeline) na ilha de Molokini, para observar o peixe oficial do Havaí — o humuhumunukunukuapua’a.
Uma visita comigo (Madeline) a um sebo.
Uma volta pelo quarteirão comigo (Madeline).
Um bate-papo rápido comigo (Madeline) para discutir qualquer coisa que você queira, no meu sofá branco, no meu quarto branco.
Eu (Madeline).”
Com o avanço da história, vamos nos afeiçoando mais pela protagonista e desejando que a vida fosse um pouquinho diferente para ela. Chega a ser absurdo pensar que Maddy não tem o poder de fazer coisas que nós consideramos superficiais. Suas condições, entretanto, não a impedem de tudo: o coração da personagem bate mais forte quando vê um caminhão de mudanças pela janela e, junto dele, um rapaz alto, magro, de olhos azuis — totalmente vestido de preto.
“Talvez eu não possa prever o futuro, mas posso prever algumas coisas. Por exemplo, estou certa de que vou me apaixonar pelo Olly. E é quase certo que será um desastre.”
O dia a dia da família do vizinho passa a ser alvo de sua atenção. Sem muita opção, ela passa a tomar notas do que cada um faz, desde a hora que estão em casa até o momento que saem. Apenas a rotina de Olly é imprevisível, o que aumenta ainda mais sua curiosidade. Não demora muito para que ambos comecem a trocar emails e a rotina de Madeline vire de cabeça para baixo. Pela primeira vez em dezoito anos, ela tem a chance de viver uma pontinha do que uma garota vive na adolescência como ficar acordada até um horário que não deveria, tornar-se distraída e criar cenários em que um pretendente está presente.
“Naquela noite, só converso com Olly pela internet até as duas da manhã e não até as três, como costumávamos a fazer”
Tudo E Todas As Coisas nos mostra amadurecimento e o desejo de conhecer o mundo quando se tem a total certeza de que isso não é possível.
Maddy agora deseja sentir todos os cheiros e tocar todas as coisas, mas não apenas pelo garoto engraçado e fofo, e sim por ter se sentido finalmente viva.
A obra de Nicola Yoon, autora jamaicano- americana, mostra o poder que o amor tem em suas diversas formas (seja ele romântico ou não) e das loucuras que somos capazes de fazer ao senti-lo. É um livro muito rápido de se ler, com ilustrações bonitas e diálogos que aquecem o coração.
“Já que vamos ser amigos, tenho umas perguntas: de onde você é? Por que você usa um gorro o tempo todo? A sua cabeça por acaso tem um formato esquisito? Por que você só se veste de preto? Pergunta relacionada: você sabe que existem outras cores de roupa? Tenho algumas sugestões se você precisar. O que você faz no telhado? O que é a tatuagem no seu braço direito?”
A história é um Best- Seller do The New York Times e foi adaptada para o cinema em 2017 com o mesmo nome.