Selene

Ana Licia Morais
literato
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2 min readJul 13, 2021

O vermelho desceu escorrendo
pelo meu corpo branco
como se um mar da lua ensanguentada
fosse eu. Talvez seja, talvez eu não saiba
talvez nem deveria.
O céu é opaco como meus olhos
não há estrela que clareie o terror.
— É o apocalipse — sussurrei quase sem voz.
Antes fosse e me tirasse de órbita,
mas eu continuei aqui:
no inferno do meu próprio sangue
no abismo de Selene tão estreito
quanto a distância entre mim e o Sol.
Paullus me matou — transformou-me em ira,
afundou-me em uma obsessão ignorante
tão baixa quanto seu ser. Eu sei.
Não se salva alguém de sua ignorância.
Quem é ferido pela Lua trava seu próprio martírio
de esquizofrenia e delírios
ligadas a cólera e rancor
e epilépticos impulsos que acabam em sina.
Cesar me amou, eu me ceguei
e afundei las estrellas que me cercavam.
Agora o amo mais que a mim
e o brilho da Selene que era meu
foi tomado pelo sangue em suas mãos.
Tudo o que sinto é o ferro — cheiro de óxido
que crava a culpa em minhas costas.

Meu corpo era poeira astral
perdido no vácuo taciturno
igual os olhos de quem tirou-me
de mim mesma.
Minha mente dormiu por horas
o que todos conseguiam ouvir
era somente a minha respiração –
tão pesada quanto a consciência de Paullus.
Dizem que ele mudou meu eu,
mas eu insisto na contramão.
O Sol deixou marcas em mim,
signos estes com uma assinatura quente,
símbolo de uma aurora intensa
violenta e impetuosa.
O Sol ardia ao seu redor
e mergulhava-se em soberba;
transformou Mercúrio em fogo
esqueceu-se de Las Estrellas
enquanto a empáfia e ele
viravam um só: alienação.
Mercúrio não existia mais,
agora era somente Lua, Sol e Cesar.
Que o Helio queime a si próprio
ou então eu queimarei o Sol.

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Ana Licia Morais
literato

22 anos, estudante de psicologia e escritora nas horas vagas. Ama criar heterônimos e viajar em suas criações. Encontrou na poesia uma forma de desaguar seu eu.