Os dois morrem no final | de Adam Silvera

Victor Hugo (vitorinu)
o vitorinu

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‘Eu beijo o garoto que me trouxe à vida no dia em que vamos morrer’

A maioria das pessoas não querem encarar a finitude da vida. Em ‘Os dois morrem no final’, de Adam Silvera, é possível saber o dia que alguém ‘partirá dessa para a melhor’ (um eufemismo para quebrar o gelo). Como o mundo reagiria a isso? Adam trata de responder pela perspectiva de dois garotos bem diferentes, Mateo e Rufus, que decidem passar suas últimas horas juntos. Será que até no fim o amor pode escapar pelas frestas de um destino implacável?

Adam Silvera é um escritor porto-riquenho de livros ‘young adult’ que nasceu no Bronx, nos Estados Unidos, e escreve desde os seus onze anos. Primeiro, se dedicou a fanfics, e desde 2015, tem sete livros publicados. Dois em parceria com a escritora Becky Albertalli (de ‘Com Amor, Simon’). Em entrevista ao site ‘The bookseller’, Adam comentou sobre o título-spoiler do livro:

“Para mim, a história sempre foi sobre a jornada e não o destino. O título é claramente cativante, o que é ótimo para marketing, mas você ficaria surpreso com quantas pessoas não acreditam que o título está dizendo a verdade!”

Pois é. Mateo e Rufus morrem no final do livro. Mas isso não afeta a leitura. Eu também sabia que eles iriam morrer no final quando comecei a ler graças a indicação de Igor, um ex-quase namorado e amigo. O que me cativou foi o desenvolvimento da relação dos garotos e das suas questões mal resolvidas. Outro ponto forte do livro são outros personagens que fazem pontas na história. Sendo eles terminantes ou não.

Acho que não expliquei o que significa ‘terminante’, né? Terminantes são pessoas que recebem a ligação da Central da Morte, uma empresa que adivinha qual dia as pessoas irão morrer. Ninguém sabe como eles conseguem essa informação.

Existem blogs de diários escritos por terminantes, centros de realidade virtual que tentam proporcionar grandes experiências, museus que reúnem passeios guiados e realísticos por culturas de países estrangeiros e aplicativos de relacionamento.

Um deles é chamado ‘ Meu último amigo’, que reúne pessoas que precisam de companhia no fim da vida e quem não recebeu a ligação, mas que se voluntaria a ser um amigo de um terminante. É assim que Mateo e Rufus se encontram. E se apaixonam.

Eles já enfrentam momentos difíceis na vida e agora no fim dela precisam colocar as coisas no lugar. Mateo não aproveitou a vida porque tinha medo de estar em perigo e receber a ligação da Central da Morte. Ele percebe que deveria ter aproveitado mais o seu tempo. Já Rufus perdeu toda a sua família e desenvolveu uma síndrome conhecida por ‘culpa do sobrevivente’.

“A morte do amigo, independentemente de como vá acontecer, permanecerá com eles para sempre. Vidas inteiras não são lições, mas há aprendizados em todas as vidas”

No livro, seus personagens negam, se desesperam, praticam compaixão, piedade e empatia. Um deles é uma jornalista que ambiciona entrevistar um famoso que se tornou um terminante. Ela também recebeu a ligação da Central, mas não acredita e passa por várias situações de quase-morte até o fim do livro. Um suspense que cresce cada vez que ela aparece na história.

Esse é um dos momentos mais interessantes da história porque torci para ser mentira e, ao mesmo tempo, já adequado ao universo do livro, desejei que ela não desperdiçasse as últimas horas da sua vida. Não é assim que vivemos a todo momento? Ignorando a iminência do fim e também perseguindo a vida como se houvesse sempre um amanhã?

Ah, claro, tem momentos fofos no livro entre Rufus e Mateo, um dos casais mais interessantes e trágicos que tive o prazer de ler. É um desenvolvimento bonito. Eles estreitam relações como dois estranhos e caminham para uma paixão que não envolve desespero, mas sim identificação e companheirismo. Quem lê torce por eles mesmo sabendo do fim. É insensato, mas é a vida.

Por fim, ‘Os dois morrem no final’ se tornou o meu livro favorito em 2021(e da minha vida) porque trata de um tema que é tabu sob a perspectiva de dois jovens LGBTs com sensibilidade e afeto. Uma história que também desperta reflexões sobre a morte e a vida. Temas que andam lado a lado, mas que muitos insistem em ignorar essa relação. O que você vem fazendo pela sua vida? Com essa pergunta que me despeço de vocês nesse post.

Tô indo cuidar da minha vida como se fosse receber uma ligação que faria ela toda passar pelos meus olhos.

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Victor Hugo (vitorinu)
o vitorinu

Jornalista, apaixonado por livros e desbravador de sebos do Rio de Janeiro.