Não tá fácil pra ninguém, diz pesquisa

Estudos comprovam aquilo que todo mundo já suspeitava

Uma pesquisa inédita divulgada nesta quinta-feira demonstra que, conforme já era amplamente divulgado pelos brasileiros nas redes sociais, não tá fácil pra ninguém.

A pesquisa é resultado de semanas de estudos e análises de um grupo de trabalho composto por especialistas das principais universidades brasileiras. Foram realizadas entrevistas com moradores de todas as capitais do país. A previsão original era de que os resultados fossem tornados públicos ainda no início do mês, mas foi preciso adiar a data porque, segundo um dos acadêmicos, “não tá fácil pra ninguém”.

Segundo os dados coletados e compilados, 78% dos brasileiros acreditam piamente que não tá fácil pra ninguém. Outros 19% preferiram não opinar, alegando que não podiam parar para responder pesquisa por estarem atrasados para o trabalho e já meio queimados com os respectivos chefes, afinal não tá fácil pra ninguém.

Os 3% restantes creem que tá fácil sim, é só saber olhar o lado bom das coisas. Quando indagados sobre qual seria esse lado, entretanto, balbuciaram e não souberam dizer. Estimulados pelos pesquisadores com algumas sugestões de boas notícias (as taxas de desemprego, o fim da crise na Ucrânia, a solteirice da Bruna Marquezine), pediram para colocar qualquer uma só para validar a opinião e se desculparam por não conseguirem contribuir de forma mais esclarecedora. Os pesquisadores relevaram, já que não tá fácil pra ninguém.

Uma análise da pesquisa por faixas de renda revela que os membros de cada classe social acreditam que tá mais fácil para os integrantes da classe imediatamente superior. Entrevistados da classe A não teriam a quem recorrer, mas não houve quem se identificasse como pertencendo a ela. Os pesquisadores atribuíram esse fenômeno ao fato de que não tá fácil pra ninguém.

A pesquisa também categorizou os entrevistados por preferência política. A grande maioria deles declarou que sua preferência é que a política fosse para os raios que a partissem, e que não vale a pena dar bola para esse assunto. Esse grupo foi unânime em afirmar que não tá fácil pra ninguém, exceto para os políticos. Já os interessados pelo tema, independente de orientação ideológica, concordaram que o desinteresse político da maioria da população contribui para que não teja fácil pra ninguém.

Os protestos de rua no país também foram discutidos. Para aproximadamente metade dos entrevistados, eles são a consequência de não tar fácil pra ninguém; para aproximadamente a outra metade, eles são a causa. Os black blocs foram consensualmente repudiados, apesar de alguns entrevistados terem observado que eles colocam as coisas em perspectiva, uma vez que tornam tudo menos fácil pra todo mundo agora e fazem a gente ter saudade do fácil que não tava pra ninguém antes, que, mesmo não sendo fácil, era mais fácil do que o fácil que não tá pra ninguém agora.

Em relação à Copa do Mundo, concluiu-se que, mesmo com vitória do Brasil, vai continuar não tando fácil pra ninguém, devido ao dinheiro desperdiçado em estádios faraônicos e a ter que conviver com a ideia de que o Jô é campeão mundial. Derrota da seleção, porém, deixaria tudo ainda menos fácil pra todo mundo, porque aí nem feriadão a gente teria e todo mundo ia voltar pro trabalho de ressaca e puto dos cornos por ter organizado toda essa palhaçada de Copa só pra Argentina levar e poder sambar na nossa cara. E é universalmente aceito que, para os brasileiros, saber que não tá fácil pros argentinos há décadas é uma grande distração do fato de que aqui não tá fácil pra ninguém.

Representantes do governo comentaram a pesquisa. Eles foram rápidos em afirmar que, graças a seus esforços, atualmente tá mais fácil do que nunca antes na história deste país. Apontaram uma série de motivos, que a imprensa preferiu não anotar porque certamente são os mesmos usados da última vez em que alguma crítica de qualquer natureza foi direcionada à administração.

Os porta-vozes também reconheceram que, apesar disso, ainda não tá assim tão fácil pra muitas pessoas, e que é preciso seguir melhorando, mas com certeza taria menos fácil pra todo mundo se não fosse por eles. Aproveitaram para pedir que não tirem suas boquinhas nas eleições de outubro, porque não trabalham de verdade há quase doze anos e não tá fácil pra ninguém.

A oposição não gostou das declarações e anunciou que vai protocolar a abertura de uma CPI (a vigésima-terceira nesta semana), pedir uma investigação do Ministério Público e convocar todos os ministros, secretários, subsecretários e camareiros do Alvorada para deporem no Congresso. Eles sabem que nada vai ser aprovado, mas cumprem seu papel político de sair bem na fita.

Um líder oposicionista disparou que, desde que o governo mudou de mãos, tá cada vez menos fácil, especialmente para a oposição, que se vê na delicada posição de ter que formar um discurso coerente para convencer as pessoas. Para ele, a população deveria perceber por conta própria que é hora de mudar, e a alternativa natural deveria ser seu grupo político “porque… porque sim, uai”. Indagado a respeito das mudanças necessárias ao país, respondeu que está na cara e nem precisa falar, é só reparar como não tá fácil pra ninguém.

A pesquisa completa pode ser encontrada no nosso site, mediante cadastro como assinante e pagamento da primeira semestralidade, porque somos um jornal impresso e não tá fácil pra ninguém.