Robinson Crusoé, o dentinho de leite e as obras da providência de Deus

Débora Rosane
Literatura e Redenção
3 min readJan 11, 2021

Ó Deus, ó Providência! Com teu real poder

Trouxeste à existência o mundo, todo ser!

E a tudo que criaste, com benfazeja mão,

As bênçãos não negaste da tua proteção. (Novo cântico, Providência na criação, hino 30)

Robinson Crusoe 1719 1st edition*

A obra do Defoe, Robinson Crusoé, chegou às minhas mãos há quatro anos por meio da família Galdino, quando tive o privilégio de comemorar o meu pós-aniversário com eles aqui em Natal-RN. A dedicatória dizia assim: “que esta leitura possa te fazer refletir LITERARIAMENTE sobre a Providência Divina.” Enquanto degustava esta obra eu pude desfrutar da Providência Divina não só LITERARIAMENTE, mas LITERALMENTE. Conclui a leitura hoje com o coração transbordando de gratidão a Deus pelos meios que ele usa para nos comunicar a sua bondade infinita.

A pergunta 11 do Catecismo de Westminster trata sobre as obras da providência de Deus, quando diz que [elas] “são a sua maneira santa, sábia e poderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as ações delas.” A Providência se faz clara em cada página de Robinson Crusoé, quando o isola do mundo e o traz de volta regenerado e convicto que cada acontecimento da sua vida, bom ou ruim, direcionava a sua alma a olhar para um Deus que era o causador do primeiro ao último momento da sua existência, como se vê no trecho a seguir:

Que são esta terra e este mar que tanto tenho visto? Qual a sua origem? E o que somos eu e as outras criaturas, mansas e selvagens, humanas e brutais? De onde viemos?

Por certo somos todos feitos por algum poder misterioso que criou a terra e o mar, o ar e o céu. Quem é este poder?

Então naturalmente conclui: foi Deus que criou tudo. Bem, mas então — seguia estranhamente o raciocínio — , se Deus fez todas essas coisas, Ele guia e governa a todas, e tudo que se relaciona com elas; pois a força capaz de fazer todas as coisas com certeza tem o poder de as guiar e dirigir.

Se é assim, nada pode ocorrer no grande circuito de Suas obras sem o Seu conhecimento ou desígnio.

E se nada ocorre sem o Seu conhecimento, Ele sabe que me encontro aqui e que estou nesta situação terrível. E se nada ocorre sem o Seu desígnio, Ele determinou que tudo isso me acontecesse.

A leitura do livro coincidiu com um fato inesperado na minha vida, pois, no último sábado, eu e minha família sofremos uma terrível tentativa de assalto no momento que entrávamos, eu e minha mãe, na casa da minha tia para uma visita a minha prima que ganhara bebê há pouco. Ali nós vimos claramente a obra da Providência Divina por meio de um policial que morava na vizinhança e impediu que o plano dos bandidos se concretizasse. Ficamos imensamente gratos a ele, mas algo me chamou a atenção em sua fala: “ eu estava em casa ajudando o meu filho a arrancar o seu dentinho de leite quando ouvi os gritos de vocês e corri para socorrê-los”. Essa fala ainda ecoa na minha cabeça até então.

Passado o susto, ou parte dele, as palavras do Crusoé começaram a fazer coro na minha cabeça com as palavras do policial. Ouvi muitos comentários sobre ele ser o herói do dia — não tiro o seu mérito, e tampouco a minha gratidão pela sua doação ao próximo — , mas não consigo perder de vista que o mesmo Deus que guiou e dirigiu aquele dentinho de leite amolecido, cuidou da segurança de pessoas em grande perigo, e livrou Robinson Crusoé das suas tempestades espirituais. A providência é assim, ela acontece o tempo todo, mesmo quando esquecemos do cuidado constante de Deus para com as nossas vidas.

*https://pt.wikipedia.org/wiki/Robinson_Crusoe#/media/Ficheiro:Robinson_Crusoe_1719_1st_edition.jpg

--

--