Hipervigilância no amor

Beatriz Misaki
Restos de Amor
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2 min readApr 12, 2023

Observo com muito mais atenção detalhes que, talvez, devessem passar desapercebidos. Tenho medo de que as coisas que já passei se repitam. Tenho medo de que aquilo que não passei aconteça.

Me mantenho num estado de alerta constante. A reclamação sutil pela demora da mensagem é um sinal de que a pessoa não me enxerga como um indíviduo com vida própria ou é só uma ansiedade comum? Anoto a questão em um caderninho.

Penso que assim possa evitar loucos… Ou me tornar um.

Disse pro rapaz com quem comecei a sair que não queria vê-lo por enquanto. Que tinha que resolver questões na minha cabeça, comigo mesma.

Ele disse que esperava. Mas no dia seguinte, no outro e ainda no próximo me mandou mensagem pedindo pra me ver. Na quarta vez, não respondi. Acho que a espera era uma mentira. Eu entendo o motivo de não querer esperar.

Não sou sua alma gêmea, ele sequer acredita nisso. Existem outras mulheres no mundo. E ele consegue arrumar outra pessoa para dar uns beijos. Certamente, consegue.

Eu não entendo o motivo de dizer que espera se o plano não é esse. Se vai morrer de aflição e ansiedade e me cobrar algo que eu disse que não seria capaz de dar. Me pergunto se não seria também um indício de que as coisas não irão caminhar bem. Me pergunto se não tenho feito perguntas demais.

No meu idealismo romântico, eu queria uma história de amor leve. Que me levasse a um lugar de paz onde minha mente ficasse tranquila. Mas olho pra mim mesma e penso ser incapaz de algo assim no momento.

Minha mente não ficará tranquila. E isso não tem exatamente a ver com quem estou, mas com o corpo machucado que carrego comigo. Corpo que saiu há pouco de uma guerra e pensa que todo momento é de luta.

Um amigo disse que esse é um processo natural. Que, com o tempo, a gente para de reagir a tantas coisas como se tudo fosse uma possível ameaça. Que meu corpo está exausto e precisa de descanso. E que só depois do descanso é que ele relaxa.

E a gente descansa fazendo outras coisas… Ocupando a rotina com histórias diferentes. Porque a Disney mentiu e nem todas as histórias precisam ser de amor.

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Beatriz Misaki
Restos de Amor

Escrevo sobre amor, literatura e música. IG @biamisaki