Somos astros errantes que, de tempos em tempos, voltam a se aproximar

Beatriz Misaki
Restos de Amor
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2 min readApr 16, 2023

Seguindo caminhos pouco prováveis, nos encontramos e desencontramos de novo e de novo ao longo da vida.

É um pouco triste ter que me despedir de novo. Mas acho que não tem outra forma de seguirmos sabendo que somos errantes.

Errante, você me ensinou, é aquele que não segue um caminho linear e tão previsível.

No nosso primeiro encontro, você dizia que faria Engenharia no ITA e eu deslumbrava a possibilidade de cursar Letras. Estávamos no terceiro ano do ensino médio e nos cruzamos nas aulas preparatórias para as olimpíadas de linguística.

Nossos caminhos se tocaram para que pudéssemos inverter nosso percurso. Dois anos depois, você fazia Letras e eu Engenharia.

E como não nos apegávamos tanto aos planos iniciais, mais dois anos e compartilhávamos a sala de aula do curso de Direito.

Quem imaginaria que nosso reencontro se daria em um lugar como aquele? Ninguém. Nem mesmo nós duas.

Sabendo dos nossos gostos pelas palavras e pelos números, nos encontrar em um lugar que não estuda, de fato, nenhum dos dois, era não só improvável como quase impossível.

Ninguém diria que eu iria parar em um lugar como aquele. Ninguém diria que você iria parar em um lugar como aquele.

Mas estávamos ali. Pela mágica do absurdo. Por nos aventurarmos em tudo aquilo que nos brilha os olhos, sem pensar duas vezes.

Quase dois anos por perto e nos dispersamos mais uma vez. Em caminhos distintos. Me mantive no Direito. Você seguiu para Administração. Nos perdemos de vista.

Mais dois anos. Comecei a namorar um músico. Me aventurei em escrever canções. Na mesma época, você decidiu que música era a sua vocação e o seu sonho. Que não havia nada no mundo que gostaria de fazer não fosse isso.

Nos encontramos mais uma vez. Conversávamos sobre artes de todos os tipos. Juntávamos nossos olhares sonhadores em relação ao mundo. Mais um encontro improvável.

Para quem tinha se encontrado pela última vez no estudo de leis, tratar sobre a arte naquele ponto era, mais uma vez, improvável.

Agora, nos despedimos de novo. Eu me aventuro agora na escrita, você vai se aventurar em uma viagem a outro país.

Fico com saudades e me dói o peito. Mas eu sei que a natureza dos nossos caminhos é essa: que nossos errantes. E tenho a certeza que nos encontraremos novamente. Em um contexto absurdo.

Mal posso esperar para o próximo reencontro. Tenho certeza de que ele acontecerá e que será de um jeito inimaginável para nós agora.

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Beatriz Misaki
Restos de Amor

Escrevo sobre amor, literatura e música. IG @biamisaki