Te fiz um texto, brava.

Beatriz Misaki
Restos de Amor
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2 min readApr 10, 2024

Antes de entrar na terapia, reclamava em texto que nunca vai ser lido (por você e por ninguém) da incongruência das suas ações. Reclamava da injustiça a que eu era submetida nessas suas idas e vindas aleatórias enquanto tocava “ruin my life” da Zara Larsson nos meus fones.

Brigava com as palavras como de brigasse com você. Usava expressões fortes e imperativas “você não podia/não devia” do jeito que Marshall Rosemberg dizia para não fazer.

E, então, antes que terminasse de concluir minha esquizofrênica discussão, a psicóloga me convidou para entrar em sua sala onde, achava, eu continuaria os mal dizeres infinitamente.

Falei por quase vinte minutos ininterruptos e as queixas acabaram. Reclamei de tudo que lembrei no texto.

Do meu aniversário, das ausências, dos gatos e de como parecia irracial você ter simplesmente apertado uns botões na tela do celular confirmando presença no aniversário da minha mãe sem ter (eu acho) sido convidado para o evento.

De como eu ficava confusa com a inconstância de aparições. De como eu não gostava de processos mal definidos e de não saber o que esperar.

Passou a vontade de xingar e discutir. Mas a confusão se mantém. Uma não definição constante e esquisita. Porque sua palavra não vale nada.

Se diz que vem, não quer dizer que vem. Se desaparece, não significa que não está vendo o que está acontecendo por aqui.

O tudo e o nada podem significar qualquer coisa.

Algo como essa canção...

E eu não gosto nem um pouco disso.

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Beatriz Misaki
Restos de Amor

Escrevo sobre amor, literatura e música. IG @biamisaki