Os demônios, de Púchkin
Correm nuvens, ondulam nuvens;
Invisível lua
Ilumina a neve que cai;
Céu turvo, noite nublada.
Vou, vou pelo campo aberto;
Sineta din din din…
Apavorado, apavorado sem razão
pelas planícies desconhecidas.
“Ei, cocheiro, anda!” — “Não posso:
Os cavalos sofrem, senhor;
A nevasca me tapa os olhos;
Todas as estradas vão derrapando;
Me mato e não vejo nada;
Nos perdemos. Que faremos!
Ao campo o demônio nos leva, é claro
Que andamos em círculos.
Olhe: ali, ali brincando,
Sopra e me cospe;
Agora empurra à ravina
O cavalo selvagem;
Na versta desconhecida
Ele se prostrou diante de mim;
Ali acendeu uma pequena faísca
E se perdeu no vazio das trevas”.
Correm nuvens, ondulam nuvens;
Invisível lua
Ilumina a neve que cai;
Céu turvo, noite nublada.
Não temos forças para voltar;
De repente a sineta se cala;
Os cavalos param… “O que há no campo” —
“Quem sabe? Tronco ou lobo?”
Nevasca brava, nevasca aos prantos;
Sentidos, bufam os cavalos;
Ao longe ele pula;
Seus olhos brilham no nevoeiro;
Os cavalos se apressam novamente;
Sineta din din din…
Vejo: as almas se reúnem
Em meio a planície alva.
Feio, infinito,
No turvo luar brincam
E rodopiam diferentes demônios,
Como folhas em novembro…
São tantos! Para onde vão?
Por que o canto triste?
Será que enterram um domovói,
Ou casam uma bruxa?
Correm nuvens, ondulam nuvens;
Invisível lua
Ilumina a neve que cai;
Céu turvo, noite nublada.
Correm demônios, enxame após enxame,
Rumo às alturas sem fim,
Com seus uivos estridentes e queixosos
Rasgando meu coração.
1830.
Tradução de César Marins. Original.