Design e Agilidade

Vinicius Sato
Liv Up — Inside the Kitchen
5 min readMar 3, 2021

Contexto

A contribuição do pensamento ágil para inovação

Nossa missão na Liv Up é facilitar o fornecimento de uma alimentação saudável. Para isso buscamos inovação não apenas em produtos, mas também nos processos de criação e desenvolvimento. Isso significa manter um olhar constante para a forma que trabalhamos, identificando nossas limitações com autocrítica, humildade e revisando métodos.

A principal forma de nos mantermos relevantes como empresa é conseguir entregar valor agregado continuamente para nossos clientes. Isso é ainda mais importante num cenário de retração econômica e intensa competição. Por isso, buscamos processos que nos permitam inovar de forma ágil e iterativa. Em outras palavras: queremos experimentar ideias com rapidez para entender como elas funcionam. E depois sim, investir naquelas mais relevantes.

Na Liv Up, entendemos que a Agilidade pode funcionar harmonicamente com Design, equilibrando as forças e limitações entre essas duas disciplinas.
Sob a perspectiva de Design, notamos duas principais oportunidades de aprendizado em nossa aproximação com agilistas.

A primeira é questionar a ideia de projetos que englobam muitas partes de uma única vez. E a segunda é reforçar formas de medir sucesso e sua relação com objetivos de negócio.

Para ilustrar essas ideias, vamos falar de duas iniciativas que atacamos nos últimos meses: a nova experiência de checkout e a apresentação da Liv Up no site.

Explicação resumida do Design System em folhas A1 nos corredores do escritório– um experimento para facilitar a comunicação com outras equipes.

Problema

Uma forma de fazer Design que não foi eficiente

No final de 2019, decidimos ajustar o checkout do nosso site. Essa seção inclui os passos para conclusão de compra, depois que usuários já escolheram os itens. A base de código estava obsoleta e isso gerava inúmeros problemas. Dentre eles, podemos citar: performance lenta, deixando o preenchimento das etapas mais oneroso para clientes; e riscos colaterais como, por exemplo, ao ajustar o código de um lado, quebrar outra parte que já estava funcionando.

Do ponto de vista de Design, decidimos aproveitar a oportunidade para atualizar o Design System das telas com a nova linguagem da marca. E durante o processo, apostamos numa ideia que se mostrou duvidosa alguns meses depois: ao aplicar o novo Design System, também fazer ajustes no fluxo do checkout. O processo que antes era realizado numa única tela com diferentes seções foi desmembrado em múltiplos passos.

Nas semanas seguintes ao lançamento, investimos bastante tempo interpretando as métricas de uso. Com muitos ajustes de uma única vez, ficou difícil isolar os problemas. Então, nos perguntamos: o número baixo em recompra através do celular foi:

  1. Um bug com o novo código?
  2. Algum ajuste que fizemos no fluxo?
  3. ou quem sabe um componente do novo Design System que não está funcionando?

Um escopo menor e mais direcionado teria facilitado a mensuração.

Novo checkout do site da Liv Up com aplicação do novo Design System e ajustes no fluxo.

Solução

Uma alternativa para um processo de Design mais ágil

Alguns meses depois, já em 2020, decidimos revisar a forma como apresentamos a Liv Up no site para quem nos visita pela primeira vez. Essa impressão inicial é fundamental para uma marca ainda jovem como a nossa. Procurando adaptar nosso fluxo de trabalho, nos viramos para o Lean UX Canvas apresentado por nossa Agile Coach pouco tempo antes. Nosso objetivo foi evitar os erros de projetos muito complexos, com múltiplas partes sendo resolvidas ao mesmo tempo.

O Lean UX é um framework que orienta o processo de Design dentro de uma perspectiva ágil — ou seja, entregas menores, com métricas de sucesso bem definidas, convergindo para um objetivo específico. Construímos o Canvas em 4 etapas principais:

  1. Definições iniciais: uma descrição do problema de negócio a ser abordado, necessidades dos nossos clientes e das métricas para acompanhamento. Essa é a base do canvas. Para montá-la, foram necessárias algumas sessões de trabalho lideradas pelo Product Manager e pelo Designer do Squad.
  2. Ideação: uma oficina envolvendo as diferentes disciplinas do time, com o objetivo de levantar soluções. O canvas oferece uma visualização fácil dos fatores que devem ser considerados para ideação. Isso dá foco para o exercício, evitando distrações.
  3. Hipóteses: uma frase que explica porque a solução pode funcionar. Nessa etapa é importante conectar as ideias com as definições iniciais do negócio, da etapa 1. O formato para o argumento é o seguinte: “acreditamos que [resultado] será alcançado se [usuário] tiver [benefício] com [solução].
  4. Experimento: indicação da primeira solução a ser testada. Para isso nos perguntamos: o que buscamos descobrir com essa solução? Quais seus principais riscos e incertezas, e como podemos validar ou invalidar essas incertezas de forma econômica?
O Canvas do processo Lean UX com premissas descritas nos diferentes quadrantes.
O Canvas do processo Lean UX com premissas descritas nos diferentes quadrantes.

A estrutura de hipóteses deixa nítido o escopo de cada iniciativa. Em todo projeto existem muitas informações soltas, e construir uma visão compartilhada e possíveis soluções é sempre um desafio. Outra vantagem é identificar caminhos que podem ser executados com menor esforço — ou “econômicos” como costumamos dizer. Isso permite reconsiderar uma ideia sem culpa nem custo, caso ela não seja tão boa quanto pareceu inicialmente.

Considerações finais

O que tudo isso representa para a disciplina de Design

Uma observação que pode ser feita ao pensamento ágil é a ausência de visão holística. Nesse sentido, um designer com orientação ágil ao tratar de questões “pequenas” e fragmentadas, pode perder contexto.

É aquele site ou app sem consistência, com botões de todos os tipos. Isso pode acontecer quando múltiplos Squads atuam de forma isolada; ou seja, resolvendo problemas específicos, porém criando padrões conflitantes.

Por outro lado, observando um Canvas que equilibra as necessidades dos usuários com as do negócio, deixamos a provocação se essa também não seria uma forma de visão holística. Novamente nos perguntamos: um designer proficiente em questões técnicas, mas incapaz de medir o sucesso de suas soluções e o impacto que isso gera para a empresa, também desconheceria o “todo”? Isso nos fez pensar no grau de importância que dedicamos ao comparar o estudo de analytics, com outros tópicos mais comuns para designers.

Com a popularização da disciplina de UX, disseminou-se a ideia do design centrado no usuário para empresas e produtos. Esse foi um passo fundamental para a maturidade e influência da profissão. Mas para mantermos o lugar na mesa, parece necessário um maior entendimento do negócio. E o Canvas pode ser uma ótima ferramenta para isso, servindo como uma Pedra de Roseta — ao criar um vocabulário comum entre os 2 mundos: o dos usuários e o dos executivos.

Café com números: nosso ritual semanal de acompanhamento de métricas com o time.
Café com números: nosso ritual semanal de acompanhamento de métricas com o time.

Esse artigo foi escrito em colaboração com Thiago Franco, Associate Design Director na Liv Up.

--

--