Acelerando a inovação corporativa por meio do empacotamento de capacidades de negócios

Jean Meira
Livelo

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O alinhamento entre as áreas de tecnologia e negócio da empresa é essencial para que os resultados desejados sejam atingidos, e também para que o cliente final possa desfrutar de uma experiência satisfatória na utilização dos produtos digitais oferecidos.

Uma abordagem bastante utilizada nesse contexto é o conceito de Capacidade de Negócios.

“Capacidade de negócios” é a expressão que contempla capacidades, materiais e expertise que uma organização necessita para desempenhar suas funções essenciais.

LeanIX — Definitive Guide to Business Capabilities

O mapeamento efetivo de capacidades de negócios da empresa empodera a área de tecnologia da informação para uma atuação com maior protagonismo, ampliando sua influência, simplificando a comunicação entre áreas e permitindo uma atuação mais sólida.

E tudo isso não apenas no nível operacional, mas principalmente como habilitadora e parceira das áreas de negócio, com impacto direto na estratégia corporativa.

Neste artigo, vamos aprofundar no conceito de capacidades de negócio e entender como a sua utilização pode estimular o reuso de componentes, direcionando o investimento em iniciativas que ampliem a maturidade desses componentes.

Isso traz como resultado uma maior economia, um menor time-to-market e redução no nível de preocupação das áreas de produtos digitais com tecnologias acessórias. Dessa forma, a área de tecnologia pode desenvolver soluções que não apenas atendam às demandas atuais mas também antecipem futuras oportunidades de crescimento e transformação digital, ampliando o foco na geração de valor para o cliente final.

Principais vantagens na utilização do modelo de capacidades de negócio dentro de uma empresa

A partir de um mapeamento claro de quais são as capacidades de negócio da empresa, é possível obter um panorama geral que permite o entendimento de questões, como:

  • Como o negócio funciona?
  • Quais são suas necessidades atuais?
  • Quais são suas necessidades futuras?

Isso permite a adoção de pragmatismo no endereçamento das principais preocupações corporativas e viabiliza uma priorização baseada em dados, pois é possível entender o valor agregado por cada capacidade de negócio, além de seus possíveis relacionamentos/dependências com diferentes domínios.

Com base nele, profissionais de tecnologia podem ter uma visão holística do negócio. O onboarding de novos profissionais (especialmente aqueles responsáveis por evoluir a arquitetura de software) também se torna extremamente simplificado.

Portanto, apesar de ser necessário um certo nível de esforço para mapear essas capacidades, os insumos obtidos são essenciais para a elaboração de uma estratégia de tecnologia sólida, que leve em consideração a relevância dos componentes tecnológicos da organização e seu impacto nos resultados de negócio.

Exemplos práticos na Livelo

Na Livelo, tudo vira pontos, e pontos viram tudo. Para permitir tal flexibilidade, a empresa possui diversas linhas de negócio, entre elas:

  • Viagens;
  • Clube;
  • Transferências entre programas;
  • Transferências entre pessoas;
  • Shopping;
  • Pontos viram Dinheiro;
  • Pix;
  • Compre e Pontue;

Cada uma das linhas de negócio é representada por um conjunto de capacidades de negócio. Aprofundando o segmento de viagens, por exemplo, temos as seguintes capacidades:

  • Aluguel de veículos;
  • Passagens aéreas;
  • Diárias em hotéis;
  • Pagamentos em pontos;
  • Pagamentos em dinheiro;
  • Aplicação de promoções.

Quanto maior o nível de maturidade dessas capacidades de negócio, melhor será a experiência do cliente. Portanto, o gerenciamento adequado é essencial para que nenhuma funcionalidade importante seja negligenciada.

Porém, nem todas as capacidades precisam ser cuidadas individualmente por cada linha de negócio. Embora o aluguel de veículos, a aquisição de passagens aéreas e a reserva de diárias em hotéis sejam uma preocupação inerente a área de viagens, muitos produtos na Livelo permitem o pagamento utilizando pontos e dinheiro, além da aplicação de promoções.

Desta forma, é possível abstrair essa preocupação de cada linha de negócio e tratar esses temas de forma centralizada, agregando valor para toda a empresa.

Eliminando redundâncias e otimizando vários produtos simultaneamente por meio de PBCs

Packaged business capabilities (PBCs) são componentes de software que representam uma capacidade de negócio bem definida, reconhecida como tal pelo usuário de negócio.

Gartner — Innovation Insight for Composable Modularity Of Packaged Business Capabilities

Um negócio composable é extremamente modular e flexível. Uma analogia comum é um bloco de Lego, onde é possível substituir peças sem prejudicar o resultado de forma simples.

Um pilar essencial para a construção de um negócio composable é a organização das capacidades compartilhadas da empresa em PBCs. A partir de um mapeamento inicial, é possível determinar quem será o responsável pela evolução contínua por cada capacidade de negócio e um modelo de governança que permita descobrir quais PBCs estão disponíveis, qual o nível de maturidade com o qual cada uma delas é oferecido internamente, quais são as documentações para uso e quais são os canais de suporte.

Abaixo, uma ilustração demonstrando alguns dos produtos digitais da Livelo e as respectivas PBCs que as suportam.

Representação gráfica do suporte cross oferecido por uma PBC

Idealmente, as PBCs precisam ser tratadas como produtos. Isso significa a aplicação de vários conceitos de Gestão de Produtos em sua evolução, como a criação de um roadmap alinhado com a estratégia corporativa, foco nos clientes internos e externos, acompanhamento de indicadores, controle de custos, utilização de MVPs, etc.

As PBCs devem ter um escopo bem delimitado, permitindo que o time responsável pela sua evolução tenha clareza de seus relacionamentos externos e sobre qual domínio eles possuem plena autonomia para evoluir como entenderem adequado para atingir os objetivos.

A arquitetura interna de uma PBC é totalmente encapsulada, ou seja, é voltada para clientes internos, sendo possível usufruir de suas características oferecidas sem necessariamente saber detalhes de sua implementação (linguagem de programação, estratégia de armazenamento de dados, microserviços, etc).

É necessário apenas conhecer suas interfaces para comunicação, como por exemplo, os contratos de APIs (Application Programming Interfaces), sejam elas síncronas ou assíncronas. Também é necessário um alinhamento claro sobre as premissas para utilização, como possíveis rate limits, quota de uso e SLOs (Service Level Objectives).

Exemplo prático: Pagamentos em Dinheiro

Diversos produtos na Livelo permitem pagamento em dinheiro, como:

  • Compra de Pontos;
  • Assinatura de Clube Livelo;
  • Transferência para Aéreas usando Pontos + Dinheiro;

Cada área de negócio deseja, naturalmente, habilitar o pagamento em dinheiro em seus produtos de forma simples, segura e performática. Porém, não necessariamente cada área deseja lidar com as complexidades inerentes ao fluxo de pagamento, como habilitação de adquirentes, criptografia, "tokenização" de dados financeiros e conformidade legal da operação.

Portanto, essas preocupações podem ser isoladas em um time específico, responsável pelos pagamentos de todos os produtos da empresa. Isso permite com que cada linha de negócios foque em seu próprio produto.

A centralização oferece inúmeras vantagens, como a especialização do time em um único domínio, a possibilidade de reuso de componentes e a redução de carga cognitiva de cada time envolvido. Porém, é importante endereçar alguns fatores de risco, como a tendência à criação de pontos únicos de falha.

Naturalmente, ao centralizar o processamento de pagamentos, uma queda no serviço pode comprometer o faturamento e a experiência de toda a empresa. Isso exige um cuidado ainda maior na arquitetura e construção desses recursos compartilhados, tais como:

  • Robustez nos testes automatizados;
  • Entrega contínua consistente, com características como rollout progressivo e fácil rollback;
  • Aplicação de princípios que garantam a resiliência da aplicação em cenários adversos;
  • Forte observabilidade, garantindo a identificação e correção rápida de eventuais anomalias.

Conclusão

O esforço inicial para mapear as capacidades de negócio da empresa, identificar as capacidades compartilhadas, priorizar o empacotamento dessas capacidades e oferecimento como produto, são rapidamente recompensados pela criação de uma organização modular, onde cada iniciativa de negócios pode utilizar componentes “pré-fabricados” para a rápida construção e evolução de seus produtos digitais.

Isso acelera a inovação, reduzindo o esforço necessário para habilitar capacidades comuns dentro de cada produto, liberando também tempo para experimentar hipóteses de negócios para o propósito principal de cada escopo. A estratégia também fomenta uma redução de custo, tanto de desenvolvimento quanto de infraestrutura, por meio do estímulo constante ao reuso de componentes técnicos.

Para a estratégia ter sucesso, é necessário se atentar a alguns pontos, principalmente em relação a dependência entre times. Assim como um SaaS (Software como Serviço) de mercado, ao trabalhar com múltiplos clientes internos é necessário pré-estabelecer alguns acordos, como alta disponibilidade e suporte mediante incidentes.

Documentações de alta qualidade e suporte na adoção também são essenciais, pois o objetivo é justamente abstrair a carga cognitiva dos times, viabilizando a construção rápida e fluída de produtos digitais.

Uma preocupação estratégica é o estabelecimento de metas e o acompanhamento de resultados financeiros a partir do esforço investido em cada PBC. Isso é complexo, pois os indicadores financeiros normalmente ficam a cargo de cada produto, sendo difícil correlacionar o impacto relativo de cada PBC nos resultados corporativos.

Isso exige um olhar focado no negócio, mesmo em times que tenham atuação exclusiva em tecnologia, para garantir que a liderança compreenda o retorno sobre o investimento na iniciativa.

Referências

  • LeanIX — Definitive Guide to Business Capabilities
  • Gartner — Innovation Insight for Composable Modularity Of Packaged Business Capabilities

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Jean Meira
Livelo
Writer for

Especialista em Engenharia de Sistemas na Livelo