Dublinenses — James Joyce

Victor Figueirôa
Livro Arbítrio
Published in
3 min readMay 29, 2015

Depois de anos querendo, finalmente começo o projeto de ler todas as obras de James Joyce. Resolvi fazer isso na ordem de publicação delas. Em 1914, mesmo ano em que iniciou a publicaão seriada de Retratos de um Artista Quando Jovem (próximo livro do autor na lista de leitura), Joyce publicou Dubliners composto por quinze contos e escrito quando o autor tinha 25 anos(1907).

O cenário dos contos é Dublin na alvorada do século XX, período histório no qual a Irlanda passava por um declínio econômico, moral e social. Joyce molda seus personagens como a personificação desse momento. Os avatares do declínio, nos passam o clima melancólico de diversas formas e em todas as etapas da vida, desde de o fim da inocência infantil, até o fim da vida adulta e além. Alguns personagens vivem verdadeiras epifanias em que tomam conhecimento de uma realidade antes imperceptível, momentos decisivos paras suas vidas, ou apenas mais uma gota no oceano de sentimentos e memórias existente em todo ser humano.Gosteis de todos os quinze contos uns mais outros menos, em especial Arábia, Eveline, Dia de Hera na Sala do Comite, Uma mãe e Os Mortos. Esses e todos os outros contos são quase perfeitos, mas Os Mortos, conto considerado um dos melhores de toda a literatura ocidental e texto-chave em todo a Obra de Joyce é definitivamente o meu favorito. Ele se destaca não apenas pela qualidade e maturidade textual, como também por firmar o autor em uma posição comparável a outros grandes contistas como Turguêniev ou Tchekhov.

Os Mortos, trata de pequenas ironias e elementos comuns do cotidiando que se desencadeam em sua maioria dentro de uma tradicinal festa de Natal na casa das Morkan, duas irmãs e sua sobrinha todas solteironas. A noite se desenrola acompanhado o protagonista Gabriel que atende a festa na casa das tias e além de ter, como em todo ano, de cortar o ganso deve também realizar um discurso na hora da ceia. Joyce nos apresenta os outros convidados, o ambiente da casa assim como os enventos e diálogos de forma fluída, manejando a narrativa por diversos centros de atenção. A princípio Gabriel não se destaca, tendo em vista o amplo plano de fundo apresentado, mas a medida em que nos aproximamos do fim do texto percebemos a precisão cirurgica de Joyce em conectar todos os detalhes. Cada momento da festa é calculado, cada fala, pensamento, descrição, de maneira a preparar o leitor para o climax e a epifania do protagonista no final.

Sem dar muitos spoilers, no final do conto o leitor é arrebatado pela realização que Gabriel encontra. O raciocínio do personagem é completamente compreendido, pois os motivos que o levaram àquele momento estão dispostos na narrativa de forma sutil mas marcante. Li a “parte” final algumas vezes e a ultima frase inumeras vezes e a cada leitura eu relembrava de algum detalhe, por menor que fosse, se encaixando e ajudando a construir o grande momento final.

Dou 🌟🌟🌟🌟🌟 para o livro! Demorei muito pra ler ele, mas foi porque o lia apenas no ônibus, mas é um livro curto e da pra ler de uma só vez. Recomendo! Principalmente para aqueles que como eu tem vontade de ler outras obras do Joyce. A edição da L&PM é muito boa e a tradução também.

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